Dez anos da Declaração de Educação Aberta da Cidade do Cabo

Por Nicole Allen • Diretora de Educação Aberta do SPARC Conselheira consultiva do Instituto Educadigital

O dia 22 de janeiro de 2018 marca os 10 anos da publicação da Declaração de Educação Aberta da Cidade do Cabo, um apelo global à ação que ajudou a inspirar milhares de defensores da Educação Aberta e dos Recursos Educacionais Abertos (REA) em todo o mundo. Começando com as palavras: “Estamos à beira de uma revolução global no ensino e na aprendizagem”, a declaração prevê um mundo onde todos, em todos os lugares, possam acessar e contribuir para a soma do conhecimento humano, onde os professores e alunos colaboram juntos e onde as oportunidades educacionais se ampliam.

Ao longo da última década, essa visão se espalhou de um pequeno grupo de inovadores para um movimento mundial. A Declaração da Cidade do Cabo desempenhou um papel central para ajudar a inspirar e reunir os defensores da Educação Aberta, reunindo assinaturas de mais de 2.500 indivíduos e quase 300 organizações ao redor do mundo. Para ajudar a traçar os futuros caminhos para o movimento, elaboramos a publicação: Décimo Aniversário da Declaração da Cidade do Cabo: Dez Direções para Fortalecer a Educação Aberta, um material colaborativo lançado em setembro de 2017, no Congresso Mundial de REA da UNESCO, em Liubliana (Eslovênia).

Em 22 de janeiro de 2008, eu li a Declaração da Cidade do Cabo pela primeira vez – na tela do meu impressionante celular iPhone de primeira edição. Eu era uma jovem advogada ativista, tinha um ano e meio de formada e trabalhava com uma organização estudantil para mobilizar apoio aos livros didáticos abertos. Naquela época, as únicas professoras conscientes sobre REA eram as que conversávamos e a quantidade de livros abertos disponíveis poderia ser contada nos dedos. Mas eu estava em uma missão: não podia aceitar que a educação do século XXI dependesse de livros didáticos absurdamente caros quando temos uma grande quantidade de informações on-line de alta qualidade ao nosso alcance. Eu acreditava que nossos sistemas educacionais deveriam começar a aproveitar esse potencial.

O SPARC (sigla em inglês para Coalizão para Editores e Recursos Acadêmicos) e eu ainda não havíamos nos encontrado, embora, se eu tivesse examinado a lista dos signatários da Declaração da Cidade do Cabo, eu teria visto que o SPARC e o SPARC Europe, estavam entre as primeiras organizações a assinar. As primeiras abordagens em prol da Educação Aberta começaram a se aprofundar no SPARC, e um ano depois, fui convidada a falar no seminário anual SPARC-ACRL Fórum no ALA Midwinter 2009, em Denver. O tema foi O Potencial Transformador dos Recursos Educacionais Abertos, que teve também como palestrantes dois signatários originais da Declaração da Cidade do Cabo, David Wiley e Rich Baraniuk.

Foi nessa sala em Denver, que os esboços das primeiras grandes iniciativas de REA lideradas por associações de bibliotecas começaram surgir. Ao mesmo tempo em que a comunidade de bibliotecas acadêmicas estava ciente do aumento do custo dos livros didáticos, pouco viam com clareza um papel potencial para as bibliotecas acadêmicas como parte da solução para o problema, apesar de as bibliotecas já estarem liderando o caminho no Acesso Aberto. O evento gerou um artigo importante sobre o tema e também definiu o SPARC como uma organização líder nessa temática.

Como uma especialista em políticas, eu não esperava que pudesse trabalhar tanto tempo diretamente com bibliotecários. No entanto, quando recebi o convite de Heather Joseph, em 2012, para me juntar ao SPARC, tornou-se imediatamente claro que trabalhar com bibliotecários era exatamente o próximo passo para minha carreira como defensora da Educação Aberta. Após quase sete anos de organização de campanhas com estudantes, acreditei profundamente na importância da voz do aluno, mas também reconheci que os estudantes não podem ir à luta sozinhos. Havia a necessidade de outros aliados, que pudessem ajudar a aumentar a conscientização, era preciso trabalhar com professores para superar barreiras e atuar como um centro de especialização de produção e oferta de recursos e ainda para incentivar outras partes interessadas em participar do processo. Em outras palavras: bibliotecários.

O programa de Educação Aberta da SPARC foi lançado em 2013. Hoje, as bibliotecas acadêmicas são cada vez mais vistas como os motores e agitadores de REA, como é destacado em artigos de notícias recentes em EdSurge e Inside Higher Ed. O que começou como alguns bibliotecários individuais inovando e aproveitando os sucessos uns dos outros tornou-se uma norma em toda a América do Norte: onde há atividades do campus sobre REA, as bibliotecas tendem a estar no centro delas. E, o mais importante, REA está tendo impacto nos estudantes, como mostrou o relatório anual do Connect OER da SPARC, que descobriu que as bibliotecas dos membros do SPARC eram, de longe, os participantes mais envolvidos no campus, e cada campus participante havia propiciado que os estudantes economizassem,  em média, 250 mil de dólares só no ano lectivo 2016-2017.

Refletindo sobre minha trajetória na última década, constantemente me espanto com o avanço que conseguimos. Eu quase tive que beliscar a mim mesma quando a pesquisa recentemente publicada da Babson descobriu que 9% das faculdades dos EUA adotara o REA e 30% estavam cientes de REA. Enquanto alguns no exterior observam esses números como um sinal de que REA ainda tem que decolar em nosso país, eu vejo isso como um endossamento ressonante e inquestionável de que a visão que todos tivemos ao assinar a Declaração há 10 anos foi correta. E este é apenas o começo. O que aconteceu na última década é o resultado de um trabalho incansável e dedicado de milhares de defensores da Educação Aberta em todo o mundo, e posso dizer uma coisa com certeza: está funcionando.

SPARC é uma aliança internacional de organizações de estudantes de graduação e pós-graduação que representa quase 7 milhões de estudantes em mais de 100 países ao redor do mundo. Defende e procura incentivar o compartilhamento aberto do resultado de pesquisas e materiais educacionais. Busca também democratizar o acesso ao conhecimento e acelerar o processo de educação e descobertas científicas. Organiza anualmente o OpenCon. Veja a lista de membros do SPARC.

(tradução livre e adaptação: Priscila Gonsales) 

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