Declaração REA de Paris 2012

Aconteceu em Paris entre 20 e 22/06, o Congresso Mundial de Recursos Educacionais Abertos. O evento teve como objetivo incentivar os governos a adotar políticas que incluam REA .

A delegação brasileira contou com o representante do governo Angelo Vanhoni, com o deputado Simão Pedro (autor do PL REA do Estado de São Paulo), Priscila Gonsales (representando o REA Brasil), Tel Amiel (UNICAMP), Nelson Pretto (UFBA), Andreia Inamorato (UFF) e Rafael Parente (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro).

Acesse o documento final (versão em inglês) abaixo. A versão em francês também já está disponível e em breve traduções para outros idiomas estarão disponíveis.

Acesse as apresentações dos representantes brasileiros que discursaram no evento no dia 21/06/2012.

Angelo Vanhoni – Deputado Federal (arquivo)

Simão Pedro –  Deputado Estadual (arquivo)

Priscila Gonsales – Instituto Educadigital/REA Brasil (arquivo)

Tel Amiel – Universidade Estadual de Campinas (arquivo)

Nelson Pretto – Universidade Federal da Bahia (arquivo)

Andreia Inamorato – Universidade Federal Fluminense (arquivo)

Rafael Parente – Subsecretário de Novas Tecnologias Educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro  (arquivo)

Algumas fotos do congresso você encontra em nosso canal do Flickr.

RIPE: Rede de Intercâmbio de Produção Educativa

RIPE: software livre, formatos e licenças abertas de “cabo a rabo”!

Na oportunidade do Simpósio REA, o Prof. Nelson Pretto mencionou em sua intervenção uma iniciativa muito interessante, o RIPE – Rede de Intercâmbio de Produção Educativa, um projeto de produção colaborativa e descentralizada de imagens e sons para a educação básica.

O projeto vem desenvolvendo e implantando um processo de produção colaborativa e de circulação de produtos multimídia nas escolas e um sistema (plataforma em software livre) para disponibilização dos vídeos produzidos, em formato digital e com licenciamento aberto.

Para a produção e remix dos áudio e vídeos, o que demanda o manuseio dos equipamentos necessários para a gravação e edição, foram realizadas formações com os professores, alunos e comunidade visando articular os saberes e os conhecimentos locais com os das ciências. O que se buscou foi a produção de material em vídeo que refletisse o currículo real da escola e não apenas o formal e instituído.

Na atual fase piloto, a administração e alimentação do sistema se dá através das quatro escolas participantes do projeto. O que se busca é sua ampliação de forma a possibilitar a produção e o uso de vídeos produzidos localmente em todo o sistema de educação brasileiro.

Para a continuidade da produção, os vídeos postados no RIPE podem ser baixados e remixados em novas produções, licenciadas também em creative commons, de forma a se instalar um processo permanente e dinâmico de produção e utilização da linguagem audiovisual digital, articulando educação, comunicação, cultura ciência e tecnologia.

Sobre o futuro, a ideia é ter uma “tv” da educação, feita diretamente por professores e alunos do sistema público de educação.

Conversei com a Luciana Oliveira, integrante do projeto durante o Simpósio REA, veja a entrevista abaixo.

Conheça e saiba mais sobre o projeto aqui.

Dez anos de Recursos Educacionais Abertos (REA)

O termo Recursos Educacionais Abertos (REA) comemora seus dez anos de existência! No Brasil, o movimento começou em 2008 com a visita de uma delegação internacional ao Ministério da Educação e com a realização de uma série de eventos de sensibilização em São Paulo e Brasília.

Nos últimos meses, Recursos Educacionais Abertos (REA) tem ganhado cada vez mais espaço na chamada grande mídia e muitas pessoas que nunca haviam ouvido falar do termo começam a se apropriar. A boa notícia é que a comunidade REA Brasil cresce a cada dia, compartilhando e se comunicando através da lista de emails da comunidade e das mídias sociais no Twitter e Facebook!

Para saber mais sobre REA, vale a pena assistir as entrevistas concedidas por Carolina Rossini e Tel Amiel ao Encontro Internacional Educarede 2011, por Bianca Santana para a TV Univesp e por Andreia Inamorato a TV UEM.

Palestra REA e discussão sobre o livro Memórias em Ilhéus

Estive no pontão de cultura verde Esperança da Terra em Ilhéus-BA a convite da ONG Thydêwá para uma palestra sobre Recursos Educacionais Abertos e uma reunião com os representantes das comunidades indígenas participantes do projeto do livro Memórias.

A palestra que se transformou em um bom debate tratou principalmente do uso de ferramentas e formatos abertos e licenças flexíveis para disponibilizar o livro. Da palestra e do melhor entendimento sobre Recursos Educacionais Abertos e suas vantagens, na reunião com os indígenas participantes do livro” Memórias” nasceram sugestões de ampliar o projeto do livro, adicionando vídeos relatando o processo, galeria de imagens, disponibilização em distintos formatos (como pdf, odt, epub), a construção de um site próprio como o adotado pelo recém-lançado Livro Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas e políticas públicas.

Continuaremos acompanhando o andamento desse projeto e convidamos os leitores a conhecer outros projetos que nasceram com apoio da Thydêwá, como o Índios Online, Índio Educa, Oca Digital, Celulares Indígenas, Arco Digital e outros.

Veja depoimento de alguns dos presentes sobre o processo de construção do Livro “Memórias”, mais uma obra que fará parte do acervo Índios na Visão dos Índios.

A apresentação você encontra disponível para download abaixo e algumas fotos do encontro você encontra no nosso canal do Flickr.

Formação REA em Ilhéus

Congresso Mundial REA

Acontece em Paris entre 20 e 22/06, o Congresso Mundial de Recursos Educacionais Abertos. O Congresso visa incentivar os governos a adotar políticas que incluam REA e reunirá Ministros da Educação, políticos, profissionais especializados, pesquisadores, estudantes e outras partes interessadas no tema.

Os objetivos do Congresso são:

  • Apresentar a declaração REA de Paris, resultado do conjunto de contribuições dos eventos regionais organizados pela UNESCO e a Commonwealth of Learning (COL),
  • Apresentar as melhores práticas mundiais em políticas de Recursos Educacionais Abertos,
  • Celebrar o 10 º aniversário do Fórum UNESCO de 2002, que cunhou o termo Recursos Educacionais Abertos (REA).

O evento terá dois focos, o primeiro com discussões com representantes dos governos e por todos os interessados ​​sobre a Declaração REA de Paris voltada para ações governamentais em REA, o segundo com um seminário aberto e exposição de melhores práticas REA no mundo envolvendo a sociedade civil.

Abel Caine anuncia o Congresso e a experiência brasileira é lembrada, veja abaixo.

A delegação brasileira contará com o representante do governo Angelo Vanhoni, com o deputado Simão Pedro (autor do PL REA do Estado de São Paulo), Priscila Gonsales (representando o REA Brasil), Tel Amiel (UNICAMP), Nelson Pretto (UFBA), Andreia Inamorato (UFF) e Rafael Parente (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro), veja programação completa abaixo.

Haverá transmissão online, os links para acompanhar o congresso direto de Paris você encontra na página da UNESCO. A transmissão será em inglês e francês.

Acompanhe também pelo twitter usando a tag #oercongress ou acompanhando o perfil @unescoNOW.

Processo de abertura dos cursos livres do SERPRO

Ano passado o  Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) anunciou a disponibilização de 14 cursos elaborados pela Universidade Corporativa do Serpro licenciados em Creative Commons. Inicialmente, os conteúdos foram licenciados sob a licença (CC-BY-NC-ND), Creative Commons “Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0″.

Conversamos com o “China” (Chefe da Divisão de Metodologias e Tecnologias Educacionais) durante o Simpósio REA em São Paulo e ele conta um pouco sobre esse processo de abertura, a escolha da licença, os próximos passos e as dificuldades encontradas no caminho.

Ciclo Copy, Right: filmes e debates sobre cultura livre

Quatro datas, seis filmes, uma feira de compartilhamento e muitas oportunidades de se discutir sobre cultura livre!


O Ciclo Copy Right, organizado pelo BaixaCultura, Casa da Cultura Digital,  Centro Cultural de Espanha e Matilha Cultural acontece em São Paulo de 12 a 26 de junho. O objetivo do evento é promover a exibição, difusão e discussão de filmes relacionados a cultura livre. Para isso, foram escolhidas produções que abordam a questão da propriedade intelectual, da cultura remix, do software e hardware livre. Após a exibição dos filmes, se realizarão debates com pessoas que trabalham, discutem ou vivenciam intensamente este admirável mundo das tecnologias digitais e suas implicações sociais e políticas na vida cotidiana.

1º dia e abertura – 12/06 no Centro Cultural de Espanha

O Centro Cultural de Espanha recebe a abertura do ciclo, dia 12/06 às 19h. Será exibido o filme “¡Copiad, Malditos! – Copyright (or right the copy)”, dirigido Stéphane M. Grueso. O filme é uma investigação sobre os direitos autorais no mundo digital tendo por base três perguntas simples: o que é propriedade intelectual? Até que ponto pode se possuir uma ideia? Que direitos se emanam dessa propriedade? Finalizado em 2011, “¡Copiad” foi o primeiro filme licenciado sob uma licença livre (CC -BY-NC) a passar na TV pública espanhola.

Após e exibição do filme, o diretor Stéphane M. Grueso participará de um debate, por videoconferência, sobre produção audiovisual em cultura livre e as diferenças e semelhanças entre Brasil e Espanha nessa seara. Para conversar com o diretor espanhol e trazer experiências do lado brasileiro, estará Rafael Frazão, integrante da Casa da Cultura Digital, sócio da produtora Filmes para Bailar e um dos realizadores de “Remixofagia – Alegorias de uma Revolução”.

2º dia – 16/06 no Matilha Cultural

Começa às 16h30, na sala de cinema do Matilha Cultural com a exibição de “Patent Absurdity” (2010, 28 minutos) e “Arduíno: o documentário” (2011, 28 minutos). Os filmes tem como foco duas questões primordiais da cultura digital: o software e o hardware livre.

Na conversa pós-exibição dos filmes estarão Rodrigo Rodrigues, integrante do Garoa Hacker Clube – o primeiro hackerspace do Brasil, sediado no porão da Casa da Cultura Digital e sócio da Metamáquina, empresa recém criada dedicada à impressão 3D de baixo custo; e Bernardo Gutierrez, “pós-jornalista” espanhol, CEO do Future Media, ativista do movimento 15M e pesquisador de cidades de código aberto e urbanismo P2P.

3º dia – 23/06 no Matilha Cultural

Começa às 16h30, na sala de cinema do Matilha Cultural com a exibição de “RIP: A Remix Manifesto” (2009, 86 min).  Já quase um “clássico” da cultura digital, “RIP” é narrado em primeira pessoa pelo diretor, o canadense Brett Gaylor, e trata de discutir as tentativas de controle do arsenal cultural de hoje (e do passado) com a desculpa de proteção dos direitos do autor. Para tocar o assunto, Brett ilustra seu filme com casos como o do DJ Girl Talk, do copyright do “Parabéns a Você”, dos filmes da Disney e até do funk carioca brasileiro.

Em seguida à exibição, Brett Gaylor, que hoje trabalha na Mozilla Foundation, vai participar da conversa, por videoconferência, com Pedro Markun, sócio da Esfera Hacks Políticos, integrante da comunidade Transparência Hacker e da Casa da Cultura Digital. Os dois vão falar sobre o que mudou no mundo da propriedade intelectual e da cultura digital desde a produção de RIP (2009) até hoje, especialmente das constantes propostas que propõe vigiar a web em função de uma suposta proteção aos direitos autorais dos criadores.

4º dia – 26/06 no Centro Cultural de Espanha

Para encerrar o ciclo, dia 26 de junho, às 19h no Centro Cultural de Espanha, serão exibidos dois filmes sobre a produção audiovisual/digital recente: “Remixofagia – Alegorias de Uma Revolução” (2011, 16 min), realizado por Rodrigo Savazoni e a produtora Filmes para Bailar, ambos da Casa da Cultura Digital; e “Ctrl-V – Video Control” (2011, 56 min), de Leonardo Brant.

O primeiro é um remix de trechos de filmes, entrevistas e músicas que faz uma espécie de “arqueologia” da cultura digital brasileira recente, com destaque para a luta pelo conhecimento livre e a presença das práticas de apropriação e reciclagem ao longo de nossa história. Já “Ctrl-V” é fruto de uma pesquisa sobre convergência
audiovisual que explora as relações de poder e efeitos da indústria audiovisual sobre as sociedades contemporâneas.

Depois da exibição, Rodrigo Savazoni, realizador de “Remixofagia” e diretor do Festival CulturaDigital.br, e Leonardo Brant, coordenador da plataforma Empreendedores Criativos e editor do site Cultura e Mercado, falarão mais sobre seus filmes e também sobre políticas públicas de cultura digital, audiovisual em tempos de convergência, cultura livre e outros assuntos decorrentes desses.

Novidade: Feira de Compartilhamento

No último dia do evento haverá uma feira de troca de arquivos, a partir das 16h até o encerramento da exibição e dos debates. Uma estrutura montada com um HD externo, um roteador e um HUB com entradas USB facilitarão a troca de arquivos digitais presencialmente: basta levar seu HD, Notebook, pendrive e escolher o arquivo a compartilhar ou copiar. A intenção é poder reproduzir o ambiente de troca de arquivos comum na rede também presencialmente. Vale lembrar que todos os seis filmes exibidos no ciclo estarão disponíveis para compartilhar neste HD, que ficará com um dos facilitadores da feira.

Anote os endereços

Centro Cultural de Espanha: Av. Angélica, 1091, Higienópolis – São Paulo

Matilha Cultural: Rua Rêgo Freitas, 542, República – São Paulo

Informações Adicionais

Baixa Cultura: http://baixacultura.org

Centro Cultural de Espanha: http://www.ccebrasil.org.br

Matilha Cultural: http://matilhacultural.com.br

Debate sobre Educação e Recursos Educacionais Abertos

Coletivo Digital promove debate sobre Educação e Recursos Educacionais Abertos


A cada dia que passa, nossa sociedade se torna mais sensível ao desenvolvimento tecnológico e à velocidade com que ele se dá.

No âmbito da educação esta sensibilidade não é diferente.

Fica cada vez mais difícil conceber as escolas sem computadores e internet, e, para que elas sejam assim serão necessárias, entre tantas outras coisas, políticas públicas que equipem as escolas devidamente.

A internet com suas redes sociais, com abundância de conteúdos e sua enorme possibilidade de compartilhamento, entre tantos outros fatores, obriga-nos todos a pensarmos o modo como as tecnologias podem ser utilizadas para motivar alunos, como facilitar o aprendizado deles, qual o papel dos professores nesse novo contexto educacional, quais seus desafios, como capacitá-los, e tantas outras questões.

Temas como Direitos Autorais, seus impactos na disseminação do conhecimento no “mundo virtual”, o acesso à internet de qualidade nas escolas e nas casas, quais recursos educacionais a tecnologia nos oferece também são fundamentais de serem pensados.

Os convidados Selma Rocha*, Bianca Santana** e Anderson Fernandes de Alencar*** participarão do debate na sede do Coletivo Digital.

Este debate se faz ainda mais importante em período de eleições municipais, quando o rumo que a cidade tomará nos próximos anos passa a ser mais e mais discutido entre todos. Neste contexto, é importante que debatamos políticas públicas voltadas à educação também. Acreditamos que temos que fazer de São Paulo uma cidade educadora, ocupada e segura!

Debate Educação e Recursos Educacionais Abertos

Quando: 15/06 (sexta-feira)

Hora: 19:45

Onde: Sede do Coletivo Digital

Endereço: Rua Cônego Eugênio Leite, 1117

Informações pelo telefone: 11 3083-5134 (entre 10h e 19h)

*Grátis

PS: Quem não está em São Paulo poderá participar também. O debate será transmitido por Streaming em endereço disponibilizado nesta notícia no dia do evento!

*Selma Rocha: Selma Rocha é Graduada em História e mestre em História pela USP. Lecionou na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e na PUC. Foi assessora da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989-1996); secretária municipal de Educação de Santo André (1997-2000); presidente do Conselho de Curadores da Fundação Santo André (1997-2000); chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2000-2001). Na Fundação Perseu Abramo integrou o Conselho Curador (1996-2003) e é diretora desde 2004.

**Bianca Santana: Estudou Mestrado na seguinte linha de pesquisa: Estado, Sociedade e Educação na Faculdade de Educação da USP/ Trabalha na empresa Instituto Educadigital. Atua em diversas entidades ligadas à Educação e Tecnologia, participa de movimentos ligados a estes temas, tais como: Recursos Educacionais Abertos, Faculdade de Educação da USP, Maternidade Ativa, Casa da Cultura Digital.

*** Anderson Fernandes de Alencar: Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB, 2005), mestrado em Educação pela Universidade de São Paulo (USP, 2007) em que defendeu a dissertação “A pedagogia da migração do software proprietário para o livre: uma perspectiva freiriana”, faz doutorado em Educação na Universidade de São Paulo (USP, 2008-2012), coordenou durante cinco anos, a área de tecnologia da informação do Instituto Paulo Freire e atualmente coordena a Universitas Paulo Freire (UniFreire).

Fonte: Coletivo Digital

Livros, leitura e acesso na cultura digital

*Artigo de Bianca Santana e Priscila Gonsales publicado no Estadão em 04/06/2012.

Nem mesmo a desoladora média de 2,1 livros lidos por ano pelos brasileiros ou o fato de 75% da população do País nunca ter frequentado uma biblioteca chamam tanto a atenção na edição 2012 da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (*1) como os resultados em relação aos livros digitais.

Pela primeira vez, o estudo traz um panorama sobre o hábito de leitura de livros digitais. Um olhar pouco cuidadoso poderia apenas destacar que 46% dos entrevistados disseram que nunca ouviram falar de livros digitais (ou e-books, como enfatiza o questionário) e, consequentemente, proclamar que esse novo suporte para o livro, ou melhor, essa nova possibilidade de leitura, está ainda muito distante da realidade.

No entanto, uma análise qualitativa sobre os resultados vai trazer à tona algo que está nas entrelinhas. Se considerarmos o grupo que afirmou já ter lido livros digitais, vamos observar que 54% dos entrevistados disseram que gostaram muito da experiência, 40% gostaram pouco e 6% responderam que não gostaram.

Esse resultado é altamente positivo apesar de vir de um pequeno percentual (18%) que afirmou ter tido contato com o livro digital. Isso imediatamente nos instiga a pensar que existe sim um interesse e uma recepção até calorosa por parte de quem já experimentou. Quem não conhece, quer conhecer (25% ) e quem já usou, gostou e quer mais (34% vão ler mais livros digitais a partir de agora). Não seria esse público o que o mercado publicitário chama de early adopter (*2)?

Outro aspecto que merece uma reflexão mais aprofundada neste contexto é o conceito e de “livro digital”. Segundo a própria pesquisa:  “Ao falar de livros, estamos falando de livros tradicionais, livros digitais/eletrônicos, áudio livros, digitais-daisy, livros em braile e apostilas escolares. Estamos excluindo manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis e jornais”.

Trazer uma definição geral para “livro” é um avanço importante em relação às pesquisas de anos anteriores, no entanto, a mesma conduta poderia ter sido adotada para buscar definir o que se entende por livros digitais e/ou eletrônicos. Quando se fala em livro digital, o que mais vem à mente são os dispositivos eletrônicos de suporte à leitura, os chamados “e-readers” (*3). Um livro ou um jornal em um leitor eletrônico, como o Kindle (*4), por exemplo, retoma a ideia de um produto fechado, como o impresso, com uma temporalidade também delimitada como a edição mais recente ou, no caso do jornal, a edição do dia.

A maioria dos e-readers oferece navegação semelhante ao manuseio do papel, remete quase à mesma sensação de ler um livro ou um jornal impresso. No entanto, é fundamental refletir sobre o conceito de livro digital que devemos considerar no contexto da cultura digital em que estamos. Seria meramente uma reprodução do livro em papel? Um arquivo eletrônico PDF? Uma animação multimídia cheia de cliques?

As possibilidades de leitura propiciadas por computadores, tablets, celulares e outros dispositivos extrapolam o que chamamos de livro. Como uma mídia de convergência de infinitas tecnologias e linguagens, a internet permite que textos, imagens, tabelas, infográficos, vídeos, games e diversos aplicativos multimídia possam ser simultaneamente acionados para contar uma história, seja ela ficcional ou informativa, linear ou descontínua.

Arte Fora do Museu (*5), por exemplo, é um projeto digital sobre as obras de arte que estão nas ruas de São Paulo. Ele reúne informações em textos e fotografias, que poderiam estar em um livro, mas foram publicados online, agregando vídeos e georreferenciamento das obras. É pouco provável que alguém defina o Arte Fora do Museu como um livro digital ou um e-book. Mas muitos dos que navegaram por aquelas páginas leram tanto quanto fariam em um e-book sobre o mesmo tema. Além disso, o conteúdo de um projeto como este está distribuído pela rede, no YouTube, no Facebook, no Flickr, fazendo com que as informações sejam acessadas de muitas maneiras, fragmentadas, e que se alguém tiver interesse em se aprofundar no assunto, possa sempre ser levado à fonte original.

Os e-books e os PDF de impressos não aproveitam uma importante possibilidade trazida pelo digital: o hipertexto. O termo hipertexto, cunhado por Ted Holm Nelson nos anos 1960, significa, nas palavras de Sergio Amadeu da Silveira “uma escrita não sequencial, um texto que se bifurca e que permite ao leitor escolher o que deseja ler. São blocos de textos, conectados entre si por nexos que formam diferentes itinerários para os usuários”. O hipertexto coloca a possibilidade de os indivíduos aprofundarem conhecimento nos temas que os interessem de maneira livre e autônoma. Nesse sentido, as possibilidades abertas pela digitalização de conteúdos são potencializadas pela expansão do acesso à internet.

Antes, a veiculação da informação e do conhecimento estava vinculada a suportes materiais: livros, discos, CDs, apostilas, enciclopédias. Para disseminar informações era preciso ter acesso a esses recursos materiais, caracterizando um modelo de comunicação “de um para muitos”. A internet deu a todos o poder de criar, moldar e disseminar informações com a ponta dos dedos, abrindo a possibilidade de uma comunicação “de muitos para muitos”. O modo como produzimos e consumimos informação atualmente é muito diferente do que era no curto espaço de tempo de 20 anos atrás.Continue reading