Airton Zancanaro é Bacharel em Ciências da Computação, pela Universidade Regional de Blumenau (1999), Mestre (2011) e Doutor (2015) em Engenharia e Gestão do Conhecimento, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente cursa pós-doutorado na Universidade Regional de Blumenau. Pesquisa temas como: Educação Aberta, Recursos Educacionais Abertos, produção colaborativa de materiais, MOOCs e disseminação do conhecimento.
REA.br: Quando e como descobriu os Recursos Educacionais Abertos?
Airton Zancanaro: No início de meu doutorado em 2011, auxiliei na produção de uma disciplina semipresencial de Introdução à Gestão da Inovação, direcionada ao curso de Sistema da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nessa disciplina foram reaproveitados muitos conteúdos de outro curso, produzido e oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, denominado de e-Nova. Neste momento percebeu-se a dificuldade no reaproveitamento de conteúdos produzidos em formatos não abertos. Quanto aos REAs, o primeiro contato foi em 2012 quando estava fazendo buscas de materiais que tratassem da temática “conhecimento como um bem público”. Deparei-me com trabalhos publicados, principalmente, da Carolina Rossini e da Andreia Inamorato dos Santos, da qual tive a oportunidade de assistir palestras sobre o tema. Comecei olhando para o movimento openness em temas como dados abertos, ciência aberta, educação aberta e objetos de aprendizagem até chegar aos Recursos Educacionais Abertos e a dificuldade que existe em encontrar os materiais e reutilizá-los.
REA.br: Qual é o foco do seu estudo e quais são principais descobertas/contribuições realizadas?
Airton Zancanaro: Um dos propósitos do estudo foi propor um framework para a produção de REA, com foco na disseminação do conhecimento. Para isso, a pesquisa baseou-se na seguinte questão: Como produzir REAs de modo a favorecer a disseminação do conhecimento? Que fatores, que características, que elementos, enfim, que requisitos são importantes para que a disseminação do conhecimento ocorra. Com base nessa problemática percebeu-se, inicialmente, que era necessário construir um ciclo de produção de modo a dar escalabilidade para a produção de REA, uma vez que os ciclos apresentados na literatura pesquisada não são suficientes para que a disseminação do conhecimento acontecesse. Desta forma, foi proposto um ciclo com as seguintes fases: análise e design, codificação, uso e avaliação, e publicação. Posteriormente, com base nos estudos de Hutchinson e Huberman (1994), que propuseram fatores que contribuem para o sucesso da disseminação do conhecimento no contexto educacional (relevância, engajamento, acessibilidade, adaptabilidade, qualidade, disponibilidade, relação entre usuários, redundância de mensagens e interatividade sustentada), estes fatores foram alocados dentro do ciclo de produção proposto. Para tal, elaborou-se um conjunto de requisitos para cada um dos fatores, a partir da literatura pesquisada, que foram estruturados na forma de perguntas e objetivos, seguindo uma sequência que normalmente ocorre na produção de materiais. Os requisitos foram verificados por especialistas em REA do Brasil e de Portugal; refinados por professores brasileiros e portugueses que não estavam vinculados à temática REA; e com o intuito de avaliar os requisitos definidos no framework foi realizada uma aplicação prática por uma equipe interdisciplinar. Portanto, o framework é composto de um ciclo de produção que possui requisitos que orientam na produção de REA com foco na disseminação do conhecimento.
REA.br: Como o seu estudo pode contribuir para a adoção de REA na universidade/escola?
Airton Zancanaro: O framework criado trata-se de um guia, com perguntas e objetivos, de modo a orientar a produção de REAs com maior possibilidade de disseminação e reutilização, oferendo condições para que os usuários sejam além de consumidores, também produtores de materiais.
REA.br: Você tem experiências práticas de criação/produção de REA? Quais?
Airton Zancanaro: Com base nos estudos realizados no doutorado e para avaliar o framework na prática, foram produzidas três videoaulas no formato de REAs com o propósito de orientar aqueles que desejam fazer o caminho de Santiago de Compostela. Estes REAs estão disponíveis no site http://dicasparaperegrinos.blogspot.com.br. Além disso, mantenho a curadoria de materiais relevantes sobre REA e tecnologias educacionais no site http://www.scoop.it/t/airtonza. Neste ano, 2015, venho trabalhando na sensibilização e incentivando a produção e disponibilização de REA na Universidade Regional de Blumenau.
REA.br: Você acredita que a universidade precisa de políticas para REA? Quais os possíveis caminhos de implementação?
Airton Zancanaro: Entendo que as universidades necessitam de políticas para que os REAs sejam utilizados de forma ampla, que as ações sejam permanentes tanto para despertar o interesse pelos REAs, quanto para incentivar a disponibilização de materiais abertamente e a produção colaborativa. Essas ações podem ocorrer através da disponibilização de infraestrutura tecnológica e suporte ao produtor, além do apoio institucional por meio de avanços na carreira profissional, questões financeiras e/ou políticas relacionadas à licença de uso.