Na noite do dia 05/12, a comunidade REA Brasil e novos interessados em Recursos Educacionais Abertos, tiveram encontro marcado no Hangout REA: Educação, Cultura e Políticas Públicas. A iniciativa fez parte da programação da JOVAED – Jornada Virtual ABED de Educação a Distância que acontece de 27 de novembro a 12 de dezembro.
A JOAVED é um evento totalmente online, gratuito e acontece totalmente online em múltiplas plataformas, como: listas de discussão, ambientes virtuais de aprendizagem, redes sociais, blogs e microblogs, dispositivos móveis, webconferências e mundos virtuais, dentre outras ferramentas.
Nossa proposta para o JOVAED foi apresentar uma introdução e um panorama geral de REA no Brasil, além de, tratar de questões trazidas por todos os participantes do Hangout. Atenderam ao chamado aberto para serem debatedoras, Alice Maria Costa – GPDOC/UERJ – SME/RJ, Débora Sebriam – Instituto Educadigital/Centro Educacional Pioneiro, Gabriela Dias – Consultora Digital, Lilian Starobinas – Escola Vera Cruz, Renata Aquino – PUC/SP e Talita Moretto – Projeto Vamos Ler/Instituto Doll.
Recursos Educacionais Abertos (REA) são materiais de ensino, aprendizado e pesquisa em qualquer suporte ou mídia que estejam sob domínio público ou licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros. Em suma, os REA incentivam e possibilitam a produção aberta, o compartilhamento de conteúdo, a produção colaborativa e o acesso a materiais didáticos, contribuindo para que professores e todos os interessados numa temática não sejam meros consumidores passivos de um conteúdo fechado. O movimento REA entende que a democratização do conhecimento, por meio do acesso a REA, principalmente aqueles pagos com recursos públicos, deve ser um direito de todos e dever do Estado, que deve primar pela eficiência do investimento público vindo de impostos pagos pelos contribuintes.
Entre as debatedoras um tema forte de discussão foi a questão do “copyright vs licenças livres”. Os depoimentos apontam que novas experimentações são necessárias, tanto no mercado editorial quanto na educação, e que mudanças não ocorrerão do dia para noite. Lilian Starobinas acredita que o próprio governo, que é o maior comprador de livros didáticos do país, poderia estimular novas práticas no mercado editorial oferecendo uma porcentagem de investimento a quem se propor criar novos modelos de negócio, e dessa forma, poderíamos ter um horizonte mais claro sobre o que funciona ou não.
Gabriela Dias lembra que a questão do direito autoral e o infringir ou não direitos é um assunto que não faz parte do dia a dia da maioria das pessoas e com a atual lei de direito autoral seria muito difícil um livro didático ser produzido com uma licença flexível por uma editora. Ainda, segundo Gabriela, parte do mercado editorial não é totalmente refratário a questão do REA, mas acredita que existe inércia e que grandes mudanças passam também pela atualização de todos os profissionais envolvidos. Gabriela e Lilian lembram do novo PNLD, que não deixa de ser um pequeno avanço rumo a democratização do conhecimento e que esse pode ser um primeiro passo na direção de maior flexibilização.
Débora Sebriam diz que a cultura do compartilhamento faz parte do nosso dia a dia e que na prática, um professor não deixará de remixar um material que encontre “gratuitamente” na internet, somente porque não tem uma licença flexível. Ela ainda reforça, que se podemos usar, criar e compartilhar materiais com formatos e licenças abertas, a inovação estará presente e esse sim seria um passo significativo.
Para Renata Aquino, existe um movimento das editoras de se aproximarem dos REA e que o valor dos recursos educacionais abertos já está provado. Para ela, o valor econômico se soma a cultura do compartilhamento, e que muitas vezes, materiais livres têm mais valor que materiais isolados e restritos. A pesquisadora aponta também, que seria interessante não haver uma ruptura e sim uma integração dos materiais gratuitos (porém sem formatos e licenças abertas) e recursos educacionais abertos. Rosália Rocha, que se juntou ao time de debatedoras durante o Hangout, cita que materiais didáticos pagos com dinheiro público deveriam retornar ao público, com acesso aberto e licenças flexíveis.
Lilian Starobinas, Alice Costa e Talita Moretto reforçaram que os trabalhos realizados em conjunto por professores e alunos, podem ser grandes produções colaborativas, que se compartilhadas, podem servir de inspiração para outros trabalhos. Alice Costa lembra também a questão do desconhecimento, muitas vezes os professores não sabem “o como fazer” e boas produções que ocorrem dentro da escola não são compartilhadas. Talita Moretto cita os professores que perceberam os benefícios de se compartilhar material didático em rede, pela possibilidade da troca e do aprimoramento que essa ação gera.
Perdeu o Hangout? Veja a transmissão completa e as outras colocações das debatedoras.
Muitas pessoas nos acompanharam pela transmissão ao vivo do Youtube e enviaram comentários e perguntas, algumas delas não foram comentadas pelas debatedoras devido ao grande número de questões que surgiram durante o bate-papo. Veja contribuições interessantes para todos tentarmos responder (estão em ordem cronológica):
Thaisa Silva – “Acho que a grande sacada do REA é a possibilidade real de construção do conhecimento já que permite a participação e a partir dela aprendemos mais”
Gabriel Braga – “Como pensar a relação dos REAs com o mercado editorial? Penso que há uma forte pressão por parte das grandes editoras por manter a mentalidade de obra fechada.. .Como pensar esta dinâmica?”
MoocEAD – “Recurso que cai na rede é de TODOS, ou não? ;)”
Giulliana Bianconi – “Sem dúvida o assunto material didático é fundamental para o contexto REA, mas não é um limitador para se fazer REA. Podemos pensar, por exemplo, em professores que fazem projetos com alunos. Imaginemos que os alunos fizeram textos sobre um determinado assunto, fotografaram, fizeram um vídeo bacana etc.. Publicando tudo isso, em licença flexível, e propondo uma colaboração em rede ou simplesmente abrindo isso para o público, eles estão trabalhando com a comunidade o conceito REA. Essa práticas são bacanas, mostram caminhos. Alguém gostaria de comentar mais sobre isso?”
Raylton Souza – “Gente, vamos clarear uma coisa: A propriedade intelectual foi idealizada por Benjamin Franklin para premiar a criatividade. Mas hoje é usada para limitar a difusão do conhecimento. Sejamos realistas. Não tratem o copyright como bonzinho, por favor.”
Gabriel Braga – “Dentro deste processo, de fomentação da cultura do compartilhamento, acho que devemos pensar a questão dos debates acerca do marco civil da internet, A possibilidade de restrição e vinculação de acesso à grandes corporações, tal como pode-se abrir a brecha com os debates no Legislativo, não seria um retrocesso para o contexto dos REAs?”
Raylton Souza – “Sou da Wikipédia e afins, Mas acho que li em algum lugar que algumas políticas públicas tem tratado a licença CC-BY-NC como se fosse livre. Isso dificulta um pouco nosso trabalho. Podem me explicar?”
Jaiza Fernandes – “Concordo com Rosália Rocha quando trata da questão da produção dos REA, em que os recursos digitais que sejam produzidos com investimentos públicos, retornem para esse público de forma aberta para que as pessoas, de um modo geral, possam se beneficiar com ouso desses recursos.”
Teresa Penedo – @thbeth enviou pelo Twitter: “entendi as preocupações das pessoas, direcionadas aos professores, só não entendo cursos de formação de professores sec XXI”
Esclarecimento: a transmissão foi realizada através de um perfil pessoal, porque o Google+ não aceitou o perfil do REA Brasil como “indivíduo”. Houve algumas falhas de transmissão e alguns trechos das falas não foram ao ar. Uma edição está sendo preparada e em breve o vídeo estará no canal oficial do REA Brasil no Youtube.