Do Pará a São Paulo, de educadores a editores e cineastas. Foram diversos os sotaques e as experiências trocadas sobre educação popular, software livre, ativismo, REA, tecnologias e linguagens durante o encontro “Educação e Cultura Digital”, no segundo dia do Fórum da Cultura Digital Brasileira. Em vez de algumas pessoas, definidas previamente, apresentarem suas experiências e responderem a perguntas, como estava previsto, o encontro floresceu como uma roda de conversa horizontal em que as cerca de 40 pessoas presentes puderam se apresentar e discutir os temas que surgiam.
Priscila Gonsales (@prigon) abriu a conversa apresentando o Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital: “Queríamos dar o salto: TIC nao é apenas ferramenta. Queríamos falar de cultura digital o clique se deu no ano passado, no primeiro Fórum!” Priscila lembra que a educação não era um tema privilegiado na programação e comemora o avanço deste ano. Robson Sampaio partilhou as conquistas e os projetos da Rede Mocambos e da Casa de Cultura Tainã. “Foi um trabalho dos negros com os meninos largados pras drogas, a boa idade e os chamados de loucos”, conta Robson sobre a trajetória inclusiva e inovadora dos projetos da comunidade.
Jader Gama trouxe a fantástica experiência do Puraqué, no Pará. Por desacreditarem na escola, como hoje ela funciona, alguns ativistas da cultura digital procuraram a secretaria municipal de educação de Santarém para propor um projeto com alunos. Segundo Gama, eles descobriram, sete meses depois, que deixar os professores fora do processo foi um grande erro. Decidiram então envolver as professoras, que resistiam inicialmente, mas que acabaram se encantando com a proposta. Em oficinas de metareciclagem, parte do processo de educação de professores, os 33 laboratórios de informática das escolas da cidade foram melhorados. E um servidor parrudo foi instalado em cada um deles. Autonomia e criatividade são as palavras de ordem do projeto que assume agora o desafio de colocar programação de software como disciplina curricular nas escolas. “Os alunos que sabem programar vão conduzir a disciplina sob orientação das professoras”, propõe Gama.
Barbara Dieu explicitou os quatro Rs necessários pra que materiais educacionais sejam considerados recursos educacionais abertos: reuso, revisão, remixagem e redistribuição. Bee também contou sua experiência como professora de língua estrangeira, que sempre buscou uma aprendizagem relevante com seus alunos, mesmo antes do uso das tecnologias digitais ” Pra que trabalhar um texto que não tem significado nenhum, nem pra eles nem pra mim, só por exercício?” A educadora mostrou como o engajamento em processos colaborativos interessam aos alunos e facilitam o aprender.
Bianca Santana apresentou a comunidade REA e convidou os presentes a se envolverem com os debates que tratam das liberdade do software livre e da cultura livre na educação. Trouxe a experiência do Projeto Folhas e do Livro Didático Público, do Paraná, como boa política de REA que educa o professor, o valoriza como profissional, autor e ator-chave no processo educativo, e produz material didático de qualidade.
Algumas pessoas pontuaram a resistência de professores e escolas nos usos das tecnologias digitais, mas Milada Tonarelli falou de como essa realidade já avançou: “Hoje é diferente do que era há 10anos. Há resistência, mas muitos laboratórios já estão abertos, por exemplo.Nós evoluímos”. E o professor José Carlos Antonio provocou: “escolas, pais, governos, a sociedade toda quer o professor digital, mas quem quer pagar pra ter esse professor?” Diversas pessoas completaram a pergunta de José Carlos. Além de salário decente e hora para se dedicar às TIC também fora da sala de aula, é preciso o investimento em infra-estrutura, equipamento adequado e processos educativos continuados. Quem quer pagar a conta?
*pra este post foram remixados tweets publicados durante o debate por @biancasantana, @bdieu, @vanerodrigues, @miladatgon, @liliansta, @soniabertocchi @prigon @deborasebriam @educaredebrasil @minhaterra @Editora_Moderna