Estudo indica que muitos recursos educacionais digitais na rede têm restrições de uso e distribuição

A publicação “Em Questão 11 – Recursos Educacionais Abertos no Brasil: o campo, os recursos e sua apropriação em sala de aula”, lançada no dia 30/09, traz resultados de uma pesquisa realizada pela Ação Educativa, com apoio da Wikimedia Foundation, que identificou os principais atores do campo dos Recursos Educacionais Abertos (REA) no país, assim como as oportunidades e obstáculos para o uso e a apropriação destes materiais em língua portuguesa (veja aqui a íntegra do relatório).

Um dos itens analisados pela pesquisa foi a condição dos direitos autorais dos materiais encontrados. O estudo revelou que, dos recursos educacionais disponíveis nos portais analisados, 43,7%, tinha direito autoral padrão (todos os direitos reservados); 13,4% detinha direito autoral padrão com intenção de flexibilizar; 22% com recursos licenciados de forma flexível (Creative Commons, atribuição, não comercial e/ou sem derivações); 10,8% eram de domínio público; e somente 4,3% disponibilizam os recursos de forma livre (Creative Commons, atribuição; e Creative Commons, atribuição, compartilha igual). O restante, 5,6%, não foi possível determinar.

“As tecnologias trazem mais possibilidades de interação com os conteúdos e as chamadas licenças livres são as que garantem aos cidadãos maiores liberdades nesse sentido e com restrições mínimas”, afirma Jamila Venturini, coordenadora da pesquisa.

A amostra analisada não incluiu os projetos Wikimedia, entre eles a Wikipédia, Wikiversidade, Wikilivros e Wikisources, que oferecem centenas de milhares de recursos livres; focou em outros repositórios online, a fim de se identificar, inclusive, quais deles teriam licenças compatíveis com esses projetos.

Ainda que a maioria dos portais expressem em sua missão a intenção de fazer circular o conhecimento e promover o direito à educacão, predominam recursos sob o direito autoral padrão. Em alguns casos há uma tentativa de se colocar uma licença alternativa que falha em se cumprir. O número significativo de obras em direito autoral padrão com a intenção de flexibilização evidencia que falta de conhecimento sobre como se licenciar uma obra.

“Por outro lado, o número mostra que há uma consciência sobre a necessidade de se flexibilizar os direitos autorais e um conhecimento genérico sobre as licenças alternativas que, por vezes, esbarra em uma legislação excessivamente restritiva. Caso a intenção de flexibilização tivesse de fato se materializado, o número de recursos flexíveis, livres, e em domínio público superaria o de conteúdos protegidos, chegando a quase 50% da amostra analisada”, comenta a pesquisa.

A pesquisa analisou 22 portais de recursos educacionais on-line (em sua maioria voltados à educação básica) e 231 recursos educacionais abertos, com objetivo de mapear as produções existentes no que diz respeito à sua missão, aos tipos de licença adotadas, a que etapas e modalidades da educação são direcionadas, em que áreas do conhecimento, se permitem ou não a colaboração dos usuários, quais são os critérios de busca e se possuem algum tipo de suporte específico para o uso em sala de aula.

Durante a pesquisa, também foram entrevistadas 30 pessoas, entre pensadores que lidam direta ou indiretamente com REA, produtores de conteúdos educacionais digitais e gestores públicos, com o objetivo mapear posições sobre a produção e circulação destes materiais.

Representantes de organizações da sociedade civil e da academia identificaram que a falta de conhecimento sobre como se licenciar uma obra é uma das principais barreiras para o avanço dos REA no Brasil.

O que são REA?

Os REA são materiais de ensino, aprendizagem e pesquisa – digitais ou não – que são disponibilizados de modo a permitir seu uso, adaptação e redistribuição de forma gratuita e com nenhuma ou o mínimo de restrições possível, geralmente em licenças Creativa Commons. Eles podem incluir cursos, livros didáticos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software e qualquer outra ferramenta, material ou técnica que possa apoiar o acesso e a produção de conhecimento.

Legislação e políticas públicas

A Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998) e/ou marcos legais inadequados são citados por representantes dos quatro grupos entrevistados como uma barreira para o avanço dos REA no Brasil. “Pelo menos três dos produtores entrevistados afirmam permitir e/ou defender o uso de seus conteúdos para causas nobres (uso educativo, por exemplo), apesar de não adotarem licenças flexíveis”, conta a pesquisa.

Além da legislação vigente, vêm sendo realizadas propostas legislativas sobre o tema, como o Decreto Municipal 52.681/2011, de São Paulo, que institui o Programa “Inovações Pedagógicas e de Gestão na Rede”; o Projeto de Lei 989/2011, do estado de São Paulo (aprovado pelo Legislativo e vetado pelo governador em 2013), que institui a política de disponibilização de Recursos Educacionais comprados ou desenvolvidos por subvenção da administração direta e indireta estadual; e, ainda, o Projeto de Lei 1.513/2011, que tramita na Câmara dos Deputado, que dispõe sobre a política de contratação e licenciamento de obras intelectuais subvencionadas pelos entes do Poder Público e pelos entes de Direito Privado sob controle acionário de entes da administração pública. A existência de interesses econômicos e o lobby por parte de grandes grupos aparecem, porém, como razões para o fato de as políticas públicas de fomento aos REA não avançarem no país.

Fonte: Ação Educativa

Grande Prêmio Wikimedia Brasil: a qualidade contra o tempo

Foi durante a Wikimania 2011, evento que reúne centenas de voluntários dos projetos da Wikimedia Foundation, como a Wikipédia, num pequeno restaurante em Haifa, que surgiu a notícia. A maior fabricante de computadores populares do Brasil, o Grupo Positivo, está interessado em instalar uma versão da Wikipédia offline instalada em seus produtos. Todos nós da Wikimedia Brasil que estavam presentes se entusiasmaram, pois era sabida a importância deste fato para difusão da enciclopédia e de sua missão. Em outras palavras, isso significava versões da Wikipédia em aproximadamente 13% do mercado nacional de computadores pessoais e com maior representatividade nas camadas de menor renda.



Apesar da boa notícia, começou uma corrida contra o tempo. Era necessário preparar a versão offline da Wikipédia em português, com 5.000 mil artigos de boa qualidade, num prazo de tempo muito curto, março de 2012. O desafio era enorme e para superá-lo precisaríamos pisar fundo no acelerador.

A lista dos 5.000 artigos que deveriam compor a versão offline foi preparada em apenas três meses, com grande ajuda dos voluntários da Wikimedia Brasil, mas a qualidade ainda não era suficiente e seria preciso melhorá-los. Foi então que surgiu a ideia de um grande prêmio, como as grandes corridas automobilísticas. Sem carros e sem voltas, mas com artigos para serem melhorados e muitos prêmios para os “pilotos” que aceitarem esse desafio. Assim começou o “I GP Wikimedia Brasil“, onde cada artigo melhorado é uma volta completada.

A largada será dada em janeiro de 2012 e para participar é muito fácil. Basta se inscrever em uma das equipes existentes ou formar uma equipe nova. As inscrições vão até o dia 07 de janeiro de 2012 e no momento há 71 inscritos divididos em 22 equipes, porém a previsão é chegar aos 100 participantes. Afinal, esse é um Grande Prêmio onde todos ganham.

Os prêmios serão distribuídos conforme as equipes melhorarem a qualidade dos artigos que integram a lista. São botons, adesivos, cadernos e camisetas com a marca da Wikipédia, além de troféus e medalhadas nas páginas dos usuários participantes. As regras da premiação serão divulgadas logo após a formação das equipes, mas sabemos que o prêmio maior é a versão offline da Wikipédia em língua portuguesa!

Imagine um mundo onde cada ser humano compartilhará livremente a soma de todo o conhecimento. Imagine, agora, um Brasil onde milhares de pessoas – algumas sem acesso à Internet – compartilharão uma pequena soma deste conhecimento. É isso que vamos fazer. Integre uma equipe e também participe desse Grande Prêmio!

(Texto escrito colaborativamente pela comunidade Wikimedia Brasil)

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