Uma vida 100% em código aberto: é possível?

Sam Muirhead criou desafio para mostrar ao mundo que o futuro aponta para uma sociedade tão livre quanto a própria internet


O cineasta neozelandês Sam Muirhead resolveu testar essa liberdade toda na vida offline. Ele vai passar um ano vivendo totalmente de produtos sem patente, sem copyright, sem qualquer tipo de barreira.

O próprio Sam é o primeiro a admitir: “Hoje, uma vida 100% em código aberto é impossível. Mas a ideia do projeto é exatamente mostrar as tentativas de atingir esse objetivo”. O conceito de código aberto, ou open-source, começou com a criação de softwares livres, programas de computador não-proprietários. Como o código é aberto, a ideia é que o público possa desenvolver uma versão melhor do software – desde que essa versão também seja livre. Não é difícil de supor que essa filosofia é um dos pilares do desenvolvimento tecnológico que trouxe a internet ao lugar que está hoje.

No site Year Of Open Source ele conta coisas como o árduo processo de criar uma cueca open-source. Veja entrevista com Sam e conheça suas ideias para o projeto:

O fundador do Linux disse que “no futuro todas as coisas serão open-source”. Você concorda?

Sam Muirhead: Não. Acho que um futuro com várias coisas open-source seria legal, mas não tenho certeza se essa teoria se aplica à todas as áreas da vida. A ideia do meu projeto é testar os limites do pensamento open-source. Eu diria que a expansão dessa filosofia é lógica, quase inevitável e muito positiva.

Quanto tempo irá levar até esse futuro chegar?

Sam Muirhead: Anos. Muitos, muitos anos. Mas o primeiro passo é contar para as pessoas que a ideia existe, divulgar diferentes modelos de compartilhamento, colaboração, fazer as pessoas entenderem os conceitos, as licenças e as possibilidades da cultura livre.

Você começou o desafio dia 1º de agosto, certo? Qual tem sido a parte mais difícil?

Sam Muirhead: Na verdade, conseguir informação confiável sobre o que é patenteado ou não tem se mostrado algo surpreendentemente difícil. O melhor jeito de descobrir se algo tem patente é copiá-lo, colocar no mercado e esperar para ser processado.

E o que você achou que seria particularmente difícil, mas está acabou que está sendo fácil?

Sam Muirhead: Usar Linux. Apesar da instalação propriamente dita não ter sido fácil, a mudança para o Ubuntu foi tranqüila. Meus únicos problemas com software são: não existe um equivalente ao Final Cut Pro (programa de edição da Apple) e meus amigos e familiares estão muito satisfeitos com o Skype e não pretendem mudar para Jitsi ou Empathy (comunicadores online sem patente) só para falar comigo!

Eu tenho que perguntar: como você está substituindo o papel higiênico?

Sam Muirhead: Esse é um dos itens de domínio público que eu continuarei a usar, mas também experimentarei uma alternativa open-source. Quer dizer, vou tentar fazer meu próprio papel através de um método de baixa tecnologia, mas talvez alguma parte do processo tenha que ser automatizada para facilitar que os outros o copiem.

Você está respondendo esse e-mail em um computador open-source? E os vídeos que você grava diariamente? Eles são feitos com uma câmera open-source? Existe esse tipo de coisa?

Sam Muirhead: Ainda não. CPUs abertas estão em desenvolvimento, mas não creio que estejam em um estágio maduro. Eu vou abordar esse obstáculo de duas maneiras diferentes: como o projeto tem pouca grana, não irei trocar meu MacBook, mas tentarei substituir todos os componentes possíveis por outras peças que sejam open-source. Também quero montar um computador do zero, bem básico, mas que me permita editar vídeos. Vou conversar com programadores e expert em eltrônica e hardware para ver como podemos resolver isso. Mesmo que seja algo com uma resolução tosca, com imagens em preto e branco, vale pelo teste. Em relação à câmera, eu não posso comprar a única câmera open-source do mundo, mas irei encontrar a equipe que a desenvolveu para filmar algumas coisas com ela.

Você está morando em Berlim, uma cidade conhecida por estar na vanguarda da cultura livre. Quais iniciativas que estão realizadas perto da sua casa têm te ajudado na sua rotina sem copyright?

Sam Muirhead: A maior ajuda está vindo do Open Design City, um laboratório hacker para a comunidade do design open-source. A rede FreiFunk disponibilizou sinal aberto de WiFi por toda Berlim e tem o instituto Naehinstitut que fica perto de casa e me ajuda com a confecção de roupas.

Você disse que quando não houvesse alternativa sem patente, você iria atrás da solução mais “compartilhável” possível. Você pode dar alguns exemplos?

Sam Muirhead: Nesse momento estou trabalhando com uma opção para cerveja. Ela tem sido produzida há mais de 11 mil anos, qualquer patente no processo de fabricação certamente já expirou, então as receitas não podem ter copyright. Cerveja é do domínio público. De qualquer maneira, existem 3 opções que se adéquam a minha proposta. A Free Beer é um rótulo open-source tanto na receita como no próprio conceito de marca, Premium Beer é uma marca sem fins lucrativos que disponibiliza aonde a bebida foi produzida e quais ingredientes foram usados: o modelo de negócios todo é liberado sob a licença Creative Commons para que os outros possam copiar. Tem também a Quartiermeister que usa o dinheiro da venda de cerveja para apoiar iniciativas locais. O mais legal é que os próprios consumidores que decidem aonde esse dinheiro deve ser investido, qual organização será ajudada.

Quando você começou a se interessar pela ideia de cultura livre?

Sam Muirhead: Foi há mais ou menos 4 anos quando passei a usar Open Office (espécie da pacote Office com código aberto) e Firefox. Mas foi o livro A Riqueza das Redes, do professor Yochai Benkler que despertou meu interesse de fato.

Você já teve que produzir algo com as próprias mãos?

Sam Muirhead: Nessas duas semanas eu criei pasta de dente e champanhe open-source. Também promovi um workshop sobre cuecas open-source. Nos próximos dias vou começar a fabricá-las.

Year of Open Source (CC Attribution-Sharealike) from Sam Muirhead on Vimeo.

Fonte: Revista Galileu

Ciclo Copy, Right: filmes e debates sobre cultura livre

Quatro datas, seis filmes, uma feira de compartilhamento e muitas oportunidades de se discutir sobre cultura livre!


O Ciclo Copy Right, organizado pelo BaixaCultura, Casa da Cultura Digital,  Centro Cultural de Espanha e Matilha Cultural acontece em São Paulo de 12 a 26 de junho. O objetivo do evento é promover a exibição, difusão e discussão de filmes relacionados a cultura livre. Para isso, foram escolhidas produções que abordam a questão da propriedade intelectual, da cultura remix, do software e hardware livre. Após a exibição dos filmes, se realizarão debates com pessoas que trabalham, discutem ou vivenciam intensamente este admirável mundo das tecnologias digitais e suas implicações sociais e políticas na vida cotidiana.

1º dia e abertura – 12/06 no Centro Cultural de Espanha

O Centro Cultural de Espanha recebe a abertura do ciclo, dia 12/06 às 19h. Será exibido o filme “¡Copiad, Malditos! – Copyright (or right the copy)”, dirigido Stéphane M. Grueso. O filme é uma investigação sobre os direitos autorais no mundo digital tendo por base três perguntas simples: o que é propriedade intelectual? Até que ponto pode se possuir uma ideia? Que direitos se emanam dessa propriedade? Finalizado em 2011, “¡Copiad” foi o primeiro filme licenciado sob uma licença livre (CC -BY-NC) a passar na TV pública espanhola.

Após e exibição do filme, o diretor Stéphane M. Grueso participará de um debate, por videoconferência, sobre produção audiovisual em cultura livre e as diferenças e semelhanças entre Brasil e Espanha nessa seara. Para conversar com o diretor espanhol e trazer experiências do lado brasileiro, estará Rafael Frazão, integrante da Casa da Cultura Digital, sócio da produtora Filmes para Bailar e um dos realizadores de “Remixofagia – Alegorias de uma Revolução”.

2º dia – 16/06 no Matilha Cultural

Começa às 16h30, na sala de cinema do Matilha Cultural com a exibição de “Patent Absurdity” (2010, 28 minutos) e “Arduíno: o documentário” (2011, 28 minutos). Os filmes tem como foco duas questões primordiais da cultura digital: o software e o hardware livre.

Na conversa pós-exibição dos filmes estarão Rodrigo Rodrigues, integrante do Garoa Hacker Clube – o primeiro hackerspace do Brasil, sediado no porão da Casa da Cultura Digital e sócio da Metamáquina, empresa recém criada dedicada à impressão 3D de baixo custo; e Bernardo Gutierrez, “pós-jornalista” espanhol, CEO do Future Media, ativista do movimento 15M e pesquisador de cidades de código aberto e urbanismo P2P.

3º dia – 23/06 no Matilha Cultural

Começa às 16h30, na sala de cinema do Matilha Cultural com a exibição de “RIP: A Remix Manifesto” (2009, 86 min).  Já quase um “clássico” da cultura digital, “RIP” é narrado em primeira pessoa pelo diretor, o canadense Brett Gaylor, e trata de discutir as tentativas de controle do arsenal cultural de hoje (e do passado) com a desculpa de proteção dos direitos do autor. Para tocar o assunto, Brett ilustra seu filme com casos como o do DJ Girl Talk, do copyright do “Parabéns a Você”, dos filmes da Disney e até do funk carioca brasileiro.

Em seguida à exibição, Brett Gaylor, que hoje trabalha na Mozilla Foundation, vai participar da conversa, por videoconferência, com Pedro Markun, sócio da Esfera Hacks Políticos, integrante da comunidade Transparência Hacker e da Casa da Cultura Digital. Os dois vão falar sobre o que mudou no mundo da propriedade intelectual e da cultura digital desde a produção de RIP (2009) até hoje, especialmente das constantes propostas que propõe vigiar a web em função de uma suposta proteção aos direitos autorais dos criadores.

4º dia – 26/06 no Centro Cultural de Espanha

Para encerrar o ciclo, dia 26 de junho, às 19h no Centro Cultural de Espanha, serão exibidos dois filmes sobre a produção audiovisual/digital recente: “Remixofagia – Alegorias de Uma Revolução” (2011, 16 min), realizado por Rodrigo Savazoni e a produtora Filmes para Bailar, ambos da Casa da Cultura Digital; e “Ctrl-V – Video Control” (2011, 56 min), de Leonardo Brant.

O primeiro é um remix de trechos de filmes, entrevistas e músicas que faz uma espécie de “arqueologia” da cultura digital brasileira recente, com destaque para a luta pelo conhecimento livre e a presença das práticas de apropriação e reciclagem ao longo de nossa história. Já “Ctrl-V” é fruto de uma pesquisa sobre convergência
audiovisual que explora as relações de poder e efeitos da indústria audiovisual sobre as sociedades contemporâneas.

Depois da exibição, Rodrigo Savazoni, realizador de “Remixofagia” e diretor do Festival CulturaDigital.br, e Leonardo Brant, coordenador da plataforma Empreendedores Criativos e editor do site Cultura e Mercado, falarão mais sobre seus filmes e também sobre políticas públicas de cultura digital, audiovisual em tempos de convergência, cultura livre e outros assuntos decorrentes desses.

Novidade: Feira de Compartilhamento

No último dia do evento haverá uma feira de troca de arquivos, a partir das 16h até o encerramento da exibição e dos debates. Uma estrutura montada com um HD externo, um roteador e um HUB com entradas USB facilitarão a troca de arquivos digitais presencialmente: basta levar seu HD, Notebook, pendrive e escolher o arquivo a compartilhar ou copiar. A intenção é poder reproduzir o ambiente de troca de arquivos comum na rede também presencialmente. Vale lembrar que todos os seis filmes exibidos no ciclo estarão disponíveis para compartilhar neste HD, que ficará com um dos facilitadores da feira.

Anote os endereços

Centro Cultural de Espanha: Av. Angélica, 1091, Higienópolis – São Paulo

Matilha Cultural: Rua Rêgo Freitas, 542, República – São Paulo

Informações Adicionais

Baixa Cultura: http://baixacultura.org

Centro Cultural de Espanha: http://www.ccebrasil.org.br

Matilha Cultural: http://matilhacultural.com.br