Unesco e Unicamp lançam cátedra em educação aberta

Por Jamila Venturini em Open Knowledge Brasil

Será inaugurada no dia 11 de novembro, a Cátedra em Educação Aberta da Universidade de Campinas (Unicamp) em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura). Na ocasião, Celso Costa, diretor Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal Fluminense, dará a palestra inaugural com o título “Trajetória da educação aberta nos meus caminhos de professor”. Costa foi coordenador geral da Universidade Aberta do Brasil e atualmente coordena o grupo de pesquisa Formação de professores e Tecnologias de Informação e Comunicação (CNPq). Para participar do evento, basta se inscrever aqui.

A iniciativa busca promover pesquisa e capacitação na área de educação aberta e recursos educacionais abertos, facilitando a colaboração entre pesquisadores e professores da área no Brasil e no mundo. Seus objetivos são: desenvolver e implementar atividades que busquem compreender como as práticas e espaços do ensino público básico e de ambientes não-formais de aprendizado podem implementar o uso e produção de Recursos Educacionais Abertos (REA); fomentar a adoção e disseminação de políticas de acesso aberto e licenciamento aberto; promover a criação e disseminação de recursos digitais que possam ser utilizados em ambientes educacionais, entre outros. Além disso, a proposta é se criar uma rede de colaboração internacional ao redor dos temas de educação aberta e REA que possa facilitar a troca de conhecimentos nos níveis nacional, regional e global.

Leia a seguir entrevista com Tel Amiel, coordenador da Cátedra, Pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) na Unicamp e coordenador do projeto Mapa de Iniciativas de Recursos Abertos (MIRA) feito em parceria entre a OKBr, Instituto Educadigital e a ESPOL (Ecuador).

O que é educação aberta? Como essa ideia dialoga com o movimento mais amplo pelo conhecimento livre?

No Livro REA eu defini educação aberta como: “Fomentar (ou ter a disposição) por meio de práticas, recursos e ambientes abertos, variadas configurações de ensino e aprendizagem, mesmo quando essas aparentam redundância, reconhecendo a pluralidade de contextos e as possibilidades educacionais para o aprendizado ao longo da vida”. O essencial, para mim, é pensar na articulação de vários modelos e propostas. É ir além da noção simplista e recorrente de que a mudança educacional precisa necessariamente suplantar algo que já existe. Podemos agregar novas configurações de ensino e novas oportunidades de aprendizagem ao que já existe. É nesse embate que geramos mudança no que está posto e calibramos as novas propostas.

Você poderia resumir um pouco o histórico e características principais da parceria que resultou na cátedra?

A Cátedra nasceu de um bate papo que tive durante uma conferência com Rory McGreal, que é coordenador da Cátedra Unesco em REA na Athabasca University. Desta conversa veio outra, em Paris com Abel Caine, que coordena as iniciativas relacionadas à REA na Unesco e incentivou a criação do projeto. Já começamos a trabalhar em parceria com outras Cátedras em temas relacionados (estas existem atualmente no Canadá, Eslovénia, Holanda, Nova Zelândia e México). A criação de redes internacionais de colaboração é um objetivo central da instauração de Cátedras pela Unesco. Para nosso projeto, o enfoque é o no ensino básico e na formação docente, o que complementa o trabalho dos outros parceiros que agem com maior esforço em outras áreas (como no ensino superior).

Qual a importância dessa cátedra para a pesquisa na área de educação aberta e REA no Brasil? Que atividades se pretende desenvolver?

O estabelecimento da Cátedra vem para reconhecer o trabalho que é feito no Brasil por ativistas, professores, pesquisadores e educadores, particularmente no que tange a área de recursos educacionais abertos. Esperamos que ela fortaleça e possa dar maior exposição a toda essa produção. Com a Cátedra, temos como intenção de continuar e expandir a nossa linha de trabalho. Isso inclui a produção de material e oportunidades para formação e a pesquisa. Em 2013 fizemos um projeto piloto com um grande número de parceiros, um Curso Aberto sobre “abertura” que buscaremos replicar em 2015. Continuamos o trabalho em torno do Caderno REA e da Bibliografia REA que servem como porta de entrada para o tema. Ainda esse ano, entregaremos uma análise detalhada dos portais de recursos abertos na América Latina por conta do projeto MIRA e continuaremos nossa colaboração central na construção de uma cartografia global sendo desenvolvida sobre REA. Buscaremos expandir nosso trabalho de pesquisa em torno da Universidade Aberta do Brasil (grupo coordenado pela UFF, em parceria com a UEL).

Como as universidades e pesquisadores brasileiros têm trabalhado o tema da educação aberta? Como você avalia a pesquisa que tem sido desenvolvida nessa área?

A noção de uma “educação aberta” pode ser interpretada de múltiplas maneiras, portanto não é fácil definir uma linha de trabalho comum. Parte do nosso esforço futuro será o de juntar noções históricas e contemporâneas sobre abertura. Isso inclui o legado da educação alternativa do início do século XX, caminhando pela educação progressiva e o movimento do “open education” nos anos 60-70. Hoje, propulsionado pelo crescimento do movimento REA, “educação aberta” está muito ligado às oportunidades de aprendizado que existem gratuitamente na web. É interessante buscar paralelos teóricos e práticos nessa trajetória, identificando como isso pode impactar nossa visão de escola e formação docente para o futuro. A história e pesquisa brasileira nessa área é rica e incluem desde a pedagogia crítica à projetos importantes em educação democrática.

Qual a importância de se criar uma rede de intercâmbio internacional sobre o tema?

A questão da “abertura” na educação tomou proporções globais e interdisciplinares. Precisamos nos conectar cada vez mais com outras iniciativas e trocar experiências com outros países e grupos de estudo. Serve para oxigenar o debate em torno de REA/EA, particularmente no ensino superior. Digo isso porque o que é discutido como inovador ainda é dominado pelo contexto de países ricos e falantes de inglês — precisamos de maior pluralidade.

Que iniciativas brasileiras na área de REA / Educação Aberta você destacaria?

Terminamos recentemente um projeto, o Mapa de Iniciativas de Recursos Abertos (MIRA) que tem como enfoque uma área ainda pouco estudada: repositórios voltados para o ensino básico na América Latina. Este recorte rendeu um mapa interativo e detalhado de vários projetos notáveis. Esperamos dar maior visibilidade a essas iniciativas, identificar boas práticas e compartilhar esse conhecimento. Além disso, a Comunidade REA (rea.net.br), da qual participo, é um projeto pioneiro no Brasil, que tem atuado fortemente para sensibilizar, formar e construir política pública sobre o tema. O Grupo de Trabalho sobre Ciência Aberta que conta com vários atores e projetos expressivos nessa área, é também uma referência. Um bom recurso para quem tem interesse na área e alguns de seus atores é o Livro REA.