Onde encontrar REA?

Você já ouviu falar sobre Recursos Educacionais Abertos (REA)? Mesmo que você responda não, de alguma forma deve estar envolvido com a filosofia desse movimento, seja como usuário ou como produtor de conteúdo.

A popularização da internet e o seu potencial para distribuir conteúdos facilitaram a produção e a disseminação de recursos educacionais digitais, e nos últimos anos, vimos experiências se proliferarem Brasil afora – principalmente pela iniciativa de governos, de instituições educacionais e de ONGs ligadas a educação.

Os REA nada mais são que materiais que visam apoiar o aprendizado. Pode ser um curso completo, um plano de aula, um game, uma imagem que você produziu em uma viagem, entrevistas, áudios, ou, ainda, a combinação de vários desses elementos. A diferença desses materiais para os que tipicamente encontramos na internet gratuitamente são as licenças de uso, que são flexíveis e dão ao autor o poder de escolher de que modo outras pessoas poderão usar esse material.

Uma das licenças mais usadas são as do Creative Commons, que oferecem uma opção para quem prefere ter alguns direitos reservados, em vez do famoso “copyright” (todos os direitos reservados). Esse tipo de licença está presente em buscadores como o Google e Bing, plataformas de vídeo como o Youtube e Vímeo, plataformas de distribuição de conteúdo como o Slideshare e Scribd, entre outros serviços conhecidos. Isso permite que qualquer usuário possa buscar um conteúdo aberto para utilizar sem correr riscos.

Sempre que você estiver à procura de algum recurso como um som, uma música, uma imagem, um vídeo, um software, um texto, um artigo, um infográfico para a sua aula, ou para o seu trabalho, lembre que existem alguns repositórios que podem ajudá-lo a encontrar o que você precisa e com a vantagem de oferecer recursos livres, ou seja, com licença aberta, que permite algumas liberdades, como a distribuição, o uso, o remix, a adaptação e a modificação.

A primeira análise sobre a situação dos REA realizada no Brasil foi feita pela pesquisadora Carolina Rossini, em 2010. Na época, foram identificados doze projetos educacionais que se aproximavam ou cumpriam o conceito REA estabelecido pela Unesco e sob os princípios da Declaração da Cidade do Cabo.

Entre as  iniciativas mapeadas estavam os repositórios do Ministério da Educação (MEC), que focam principalmente nos conteúdos da educação básica, como o Portal do Professor, o Rived, o Banco Internacional de Objetos Digitais e o Portal Domínio Público.  Porém, nem todo o acervo disponível nesses portais podem ser considerados REA, é preciso observar a licença de uso ou se o autor do material faleceu há mais de 70 anos.

Nos últimos três anos, os projetos se multiplicam e questões como licenciamento aberto estão um pouco mais claras, facilitando para o usuário identificar os recursos educacionais abertos. De parte de governos municipais e estaduais podemos citar o Currículo+, iniciativa do Programa Novas Tecnologias – Novas Possibilidades, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, que traz sugestões de conteúdo digital como vídeos, animações, jogos digitais, simuladores, infográficos e áudios), a Educopedia (plataforma online colaborativa de aulas digitais), o Ambiente Educacional Web (traz conteúdos digitais registrados em licenças livres, softwares livres que auxiliam na produção de mídias e acesso a sites temáticos das disciplinas e dos temas transversais) e a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (aprovou em 2011 uma lei que garante licenciamento aberto de todas as obras intelectuais produzidas com objetivos educacionais, pedagógicos e afins).

Algumas universidades brasileiras têm sido grandes contribuidoras para a disseminação do conceito de REA e também com a implantação de repositórios para compartilhar o conhecimento produzido. Na Unicamp, temos iniciativas como o Portal e-Unicamp (que traz vídeos, animações, simulações, ilustrações e aulas, materiais criados pelos próprios professores da universidade e de acesso livre ao público), e recentemente, o lançamento da Cátedra Unesco de Educação Aberta (iniciativa que busca promover pesquisa e capacitação na área de educação aberta e recursos educacionais abertos, facilitando a colaboração entre pesquisadores e professores da área no Brasil e no mundo).

Na Universidade Federal Fluminense (UFF), temos o Conteúdos Digitais (um repositório de recursos para o ensino e aprendizagem de matemática e estatística; é possível encontrar objetos digitais de ensino para uso online e offline, como softwares, experimentos e áudio). A UFF também faz parte do Projeto Oportunidad que pretende promover a adoção de práticas educacionais abertas e recursos educacionais abertos na América Latina como uma abordagem para desenvolver um espaço comum no ensino superior. Na USP, encontra-se a Biblioteca Brasiliana, que guarda um acervo bibliográfico e documental sobre assuntos brasileiros ímpar, no país e no mundo.

Algumas iniciativas institucionais de escolas particulares do município de São Paulo também estão contribuindo com a causa dos REA. O Colégio Dante Alighieri, o Colégio Porto Seguro e o Centro Educacional Pioneiro criaram seus repositórios institucionais e compartilham alguns dos seus recursos educacionais no formato de vídeos, imagens, áudios, apresentações, planos de aula, livros digitais, animações, jogos, que estão licenciados sob algumas das licenças do Creative Commons.
Para conhecer outras experiências brasileiras e internacionais visite o site REA.

Referências

Declaração de Cidade do Cabo para Educação Aberta: Abrindo a promessa de Recursos Educativos Abertos. Disponível em < http://www.capetowndeclaration.org/translations/portuguese-translation>.
Rossini, Carolina Almeida Antunes, Green-­Paper: The State and Challenges of OER in Brazil: From Readers to Writers? (February 8, 2010). Berkman Center Research Publication Nº. 2010-01. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1549922

Produzir e compartilhar é só começar!

Voltam as aulas e, junto com elas, o desafio de trazer para a escola a cultura digital, tão presente na sociedade. Como as tecnologias digitais podem de fato estimular a inovação de espaços, tempos e formas de comunicação no ambiente educativo, motivando estudantes e educadores? Trata-se de uma questão não só do Brasil, mas de muitos países compromissados com a melhoria dos processos pedagógicos e com a qualidade da aprendizagem.

Segundo a pesquisa TIC Educação 2013,  46% dos professores da rede pública declararam utilizar computador e internet em atividades com os alunos na sala de aula – um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2012.  Esse dado contradiz aquele velho discurso da “resistência” dos professores. Ao contrário, mostra que o educador percebe cada vez mais a relevância do uso pedagógico das tecnologias digitais e, indo mais além, podemos supor que existe uma vontade de inovar, de romper paradigmas, apesar de todas as dificuldades cotidianas.

É importante frisar que o desejo por inovação não é de agora. Há mais de 25 anos, as primeiras pesquisas e iniciativas brasileiras na área já tinham esse objetivo. O Brasil, na vanguarda de muitos países na época, se destacou justamente por ter focado seus estudos iniciais em analisar as transformações cognitivas e estruturais que as tecnologias digitais poderiam proporcionar. Pesquisadores de universidades como a Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Unicamp foram pioneiros em trazer a linguagem LOGO que estava sendo desenvolvida no Massachusetts Institute of Technology MIT (EUA), baseada na aprendizagem de programação pelas crianças. Para saber mais sobre esse contexto histórico, vale conferir as entrevistas com a educadora gaúcha Lea Fagundes, 84 anos, fundadora do Laboratório de Estudos Cognitivos da UFRGS, realizada pelo Instituto Educadigital.

Com o passar do tempo, algumas ideias desse período inicial se perderam. A maioria dos investimentos públicos em educação foi direcionada para compra de equipamentos (computadores, projetores e agora tablets) e de materiais educativos prontos baseados na mera transmissão de conteúdos, em detrimento de propostas de formação de docentes que pudessem estimular o trabalho colaborativo entre professores para refletir sobre o desenvolvimento de competências e habilidades para refletir, planejar e criar com tecnologias digitais.

Colaboração e a cooperação são valores cada vez mais fundamentais para a sociedade do século 21. A internet evidenciou uma rede de informação, conhecimento e cultura na qual cada indivíduo passa a ser potencial produtor. E, ao ser produtor, torna-se também autor. Uma produção educativa antes restrita à comunidade específica de uma escola agora pode estar disponível para o mundo, fazendo parte de uma construção coletiva de conhecimento que evidencie e valorize a diversidade cultural da humanidade.

Nesse contexto, a mesma pesquisa TIC Educação trouxe pela primeira vez um dado muito interessante sobre uso de conteúdos digitais que mostra uma tendência de conquistar autonomia na preparação de aulas e atividades. Na rede pública, 96% dos professores usam recursos educacionais disponíveis na internet para preparar aulas ou atividades com os alunos. Os tipos de recursos mais utilizados são imagens, figuras, ilustrações ou fotos (84%), textos (83%), questões de prova (73%) e vídeos (74%). O uso de jogos chega a 42%, apresentações prontas, 41%, e programas e softwares educacionais, 39%.

A pergunta que fica é: será que esses recursos digitais estão sendo usados em novas metodologias e práticas ou ainda reproduzem o formato de transmissão centralizada? Um ponto que a pesquisa destaca é a baixa quantidade de publicações de recursos educacionais por professores, ou seja, profissionais que são autores de conteúdos educacionais e que compartilham na rede. Apenas 21% dos professores de escolas públicas já publicaram na internet algum conteúdo educacional produzido para utilizar em suas aulas ou atividades com os alunos.

Se a criação já acontece, o próximo passo é compartilhar na rede e, de preferência como um Recurso Educacional Aberto (REA), usando uma licença livre, que permita reusos e adaptações por outros educadores. Dois ambientes abertos e gratuitos podem estimular essa atividade. Um deles é o site Escola Digital, de busca de objetos digitais disponíveis online, que oferece uma busca por licenças de uso, e na seção “Para Criar” reúne uma série de links para os usuários criarem seus próprios vídeos, jogos, infográficos, entre outros itens multimídia.

Agora, quem quiser participar de uma rede online de aprendizagem, aberta e gratuita, que conecta professores e alunos de todo o Brasil, precisa conhecer o Edukatu,  focado no consumo consciente, que traz trilhas lúdicas e espaço para escolas publicarem suas produções.
No próximo post, vamos falar mais sobre o que são os REA.

Para saber mais, acesse a nova edição do Panorama Setorial da Internet que discute as possibilidades trazidas pelos REA, explorando os dados da TIC Educação 2013.

Fonte: ARede.educa, coluna Livre Saber