Educação Aberta e REA são foco da série “Gerações Digitais” do Instituto Claro

Autonomia e compartilhamento estão mais próximos da realidade das escolas


O Instituto Claro lançou a segunda reportagem da série “Gerações Digitais”, cujo tema, tratou de Educação Aberta e Recursos Educacionais Abertos. O prof. Nelson Pretto, prfª Débora Sebriam e prof. Tel Amiel da comunidade REA Brasil participaram da matéria. A série Gerações Digitais vai ao ar a cada duas semanas e pretende registrar a trajetória das tecnologias digitais na educação nas últimas décadas, a partir de cinco temas-chave: Jogos (já publicada), Educação Aberta, Ativismo Digital, TICs na sala de aula e Mobile-Learning. Acompanhe e participe das dicussões!

Veja a matéria abaixo!

As tecnologias digitais vêm promovendo grandes mudanças na forma como as pessoas se informam e aprendem. No entanto, muitas destas mudanças não estão claras para professores e profissionais da área, que ainda apresentam dificuldades na hora de formular práticas pedagógicas para uma geração de alunos mais conectada e interativa.

Uma das novas práticas educacionais surgidas na última década é o conceito de Educação Aberta, que, para os mais radicais, se relaciona com a possibilidade de uma educação além da formal, que não depende do espaço escolar. Ou até com a substituição da escola tal como está constituída hoje, como provoca Nelson Pretto, doutor em educação e tecnologia e professor da UFBA. “Se pensarmos no formato tradicional das escolas, que só transmitem educação, as tecnologias digitais são mais efetivas”, afirma. No entanto, ele alerta: “Educação, porém, não é isso, não é transmissão de informação”.

Para Pretto, que possui um histórico de atuação com tecnologias na educação anterior à web 2.0-, as novas gerações se manifestam e produzem conhecimentos de maneira diferente. Atuando neste cenário há menos de dez anos, a educadora especializada em tecnologias digitais Débora Sebriam também acredita que uma grande transformação recente é o fato de que as pessoas passaram a produzir mais conteúdos e conhecimentos de forma colaborativa.

“A escola precisa se modificar. O esforço que tem que ser feito agora é o de transformá-la em um ecossistema pedagógico de produção de cultura e conhecimento. Para isso, é preciso uma mudança de currículo”, afirma Pretto.

Experiências colaborativas e abertas

Uma das formas de trabalhar o espírito colaborativo da cultura digital em sala de aula, tanto no que diz respeito aos recursos quanto à metodologia de utilização, é através dos Recursos Educacionais Abertos. Ou seja, fazendo uso de ferramentas que estão em domínio público ou licenciadas de maneira aberta e que podem ser utilizadas e/ou remixadas por terceiros. Confira mais detalhes sobre os REAs na apresentação abaixo, elaborada por Débora Sebriam e Priscila Gonsales para o Seminário Recursos Educacionais Abertos, que aconteceu em Porto Alegre no dia 12 de setembro, por iniciativa do Projeto REA Brasil, Instituto Educadigital e Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Débora Sebriam lembra que este movimento chegou no Brasil em 2008. Hoje, já existe uma comunidade que se organiza a partir do portal do REA e apoia projetos de disponibilização e produção de recursos abertos.

No entanto, os recursos educacionais abertos não fazem a diferença sozinhos. Para Tel Amiel, pesquisador do Nied/Unicamp e coordenador do grupo de trabalho Educação Aberta, o que importa são as práticas que podem ser modificadas em sala de aula e para além dela, através da discussão de questões como remixagem e propriedade intelectual, por exemplo. “Os REAs são uma maneira de o professor e o aluno pensar questões que a Cultura Digital impõe”, afirma.

Segundo Débora, as novas gerações já começam a ter mais autonomia para a busca e produção de conhecimento a partir da internet, apesar da “colagem” ser uma alternativa antiga. “O copiar e colar é uma prática anterior ao mundo online. As pessoas copiavam coisas da Enciclopédia Barça, por exemplo. A questão é: com vários trabalhos copiados e colados, sem citações de fonte, o professor precisa propor releituras e reflexões. O que se impõe é uma questão metodológica”, afirma.

Desafios para os próximos anos

Construir uma escola que explore melhor o conceito de colaboração é um desafio que esbarra em alguns obstáculos. Nelson Pretto aponta que os professores precisam receber formação para atuar de forma mais efetiva com as novas tecnologias. “Formação não são somente cursos. É plano de carreira, é infraestrutura nas escolas, constante atualização e valorização da prática docente”, afirma.

Pouco a pouco, os REAs começam a aparecer como foco de políticas públicas. Débora lembra que, em São Paulo, os materiais educacionais municipais já são todos REA, a partir da aprovação do Decreto Municipal nº 52.681, de 26 de setembro de 2011. Além disso, há projetos de lei para ampliar o alcance dos REAs tramitando no Senado e no Estado de São Paulo. Detalhes sobre o projeto vão ser discutidos no VI Congresso de Direito de Autor e Interesse Público, que acontecerá no dia 9 de outubro, em Curitiba. “É importante transformar esta adoção em lei, para evitar retrocessos com troca de governos, por exemplo”, afirma a educadora.

A materialização dos REAs nas escolas brasileiras ainda depende de investimentos, mas será um caminho sem volta, na opinião de Débora. “Esta discussão só vai ganhar força nos próximos anos, principalmente porque envolve dinheiro público. Se é a sociedade que está financiando os materiais, eles devem poder voltar para a sociedade depois”, finaliza.

Para acessar o podcast publicado e apresentação elaborada por Débora Sebriam e Priscila Gonsales, acesse: Instituto Claro

Em entrevista sobre PNE, Nelson Pretto defende política de incentivo a REA

O professor Nelson Pretto trouxe em sua coluna mensal no Terra Magazine, um diálogo em forma de entrevista, que teve com o jornalista Albenízio Fonseca, ex editor do Caderno Dois do jornal A Tarde na Bahia.

Ele fala sobre o II Plano Nacional de Educação que está agora no Senado e defende políticas de incentivo a produção de Recursos Educacionais Abertos.

Destaco alguns trechos abaixo:

O país precisa compreender a importância de um forte investimento na educação, incluindo uma profunda reformulação nas concepções curriculares, no fortalecimento do professor, com oferta de formação continuada e montagem de redes de aprendizagem e formação permanentes e uma profunda reestruturação das edificações escolares. Precisamos de forte investimento na pesquisa sobre a arquitetura e a educação, na intensificação de produção de Recursos Educacionais Abertos, entre tantos e tantos outros aspectos. E essas tecnologias estão aí justamente para fortalecer essa outra perspectiva de educação e do professor que é mais a de repassador de informações. Assim, precisamos de mudanças legais e investimento – e muito – não só na educação, mas em diversas outras áreas, para viabilizar que a escola seja um espaço rico de produção de culturas e conhecimentos. Precisamos de uma radical mudança na Lei de Direito Autoral, uma política para incentivar os Recursos Educacionais Abertos, um Plano Nacional de Banda Larga de verdade, que contemple todas as escolas com adequada velocidade e equipamentos para o acesso pleno ao ciberespaço. Isso porque para nós, do grupo de pesquisa na Faculdade de Educação da UFBA, a tecnologia traz para as escolas as diversas linguagens contemporâneas. A tecnologia não entra para ajudar a escola. Ela entra como uma nova possibilidade para a escrita e como um instrumento de produção de conhecimento e o nosso objetivo é fortalecer professores e estudantes como produtores de culturas.

Leia a entrevista completa no Terra Magazine.

Notas para os Delegados da CONAE

As notas abaixo foram escritas pelo Professor Nelson Pretto e enviadas por e-mail para os delegados da Conae.  Publicamos aqui, na íntegra, por tratar de temas comuns à nossa comunidade REA.

Olá amig@s,
enviei para os delegados que estarão no CONAE este email (meio em tom de notas) e queria compartilhar com vcs..
abracos

Nelson Pretto
FACED/UFBA

Estimados(as) colegas.

inicialmente peço desculpas pelo email a la spam! Alguns dos destinatários são da minha lista, amigos e colegas, outros apenas conhecidos, não tão próximos. Destes últimos peguei o email no site do CONAE.

Havia recebido da Anped um convite/sondagem para estar no CONAE. Como não recebi mais nenhuma posição, imagino que lá não estarei. No entanto, gostaria de trazer alguns pontos, com o respeito de tod@s, que considero importantes. Não falo nem represento ninguém, mas também considero que tento fazer uma pescagem de todas as listas e redes que participo – incluindo, claro a nossa FACED/UFBA e o Conselho de Cultura do Estado da Bahia, no qual sou membro titular.

Farei em termos de tópicos e, em pelo menos dois casos, farei referencia ao documento básico, vol 1, por já existir uma redação circulando numa das listas que me referi.

1. Um dos aspectos que considero básico e que tem sido um grande problema, no meu entendimento, para as políticas públicas em educação no país é a dificuldade que o MEC tem em “falar” com os demais Ministérios e, consequentemente, com as políticas públicas de Cultura, Comunicações e C&T mais particularmente. Aqui destaco, de maneira geral algumas ações que me parecem fundamentais:

1.1 – Articulação intensa e necessária com os Pontos de Cultura (MinC) política pública de fundamental importância no fortalecimento da cultura “vindo de baixo” em todo o pais, com especial destaque para a questão da cultura digital. A frase lema desse aspecto poderia ser: “As escolas não falam com os Pontos de Cultura!”.

1.2 – a discussão sobre a reforma da Lei de Direito Autoral, que o MinC está propondo e que tem que ser objeto de uma análise e uma atuação mais contundente dos educadores. Não vi referencia a isso…

1.3 – A política de Arquivos Abertos (MCT/IBICT) que gerou o SEER (Sistema de Editoração Eletrônica de Revistas Acadêmicas, com 1349 revistas já adotando essa política precisa ser intensificada, transformando-se em política pública.

1.4 A reforma na lei Rouanet (MinC) que trata da questão do direito autoral e que favorece a produção e circulação de bens culturais para a educação

1.5 – Maior ação e apoio INTEGRAL ao Plano Nacional de Banda Larga e a atuação da RNP e do MCT na sustentação da internet no Brasil. Precisamos de todo o sistema educacional público integrado em rede de alta velocidade já!

1.6 – Maior articulação como MCT no campo dos museus de ciências, divulgação científica entre outros.

1.7 – Intensificação e maior articulação com Min. Plan no campo do software livre e aberto, parta todo os sistema educacional e para os chamados programas de inclusão digital (infocentros e telecentros). Penso ser esse um aspecto básico e funbdamental que precisa estar presente em todo o sistema educacional público.

No particular do software livre e dos Recursos Educacionais abertos, já existem circulando (algumas só minhas!) propostas de redação para os itens 54, 90 e 91

54 j) Laboratórios de ensino, informática, com software livre, brinquedoteca , em condições adequadas de uso.

90- O segundo diz respeito à dimensão dos direitos dos/as cidadãos/ãs e das obrigações do Estado, cabendo a este último ampliar a obrigatoriedade da educação básica superior; definir e garantir parâmetros (II, 10) de qualidade, incluindo a igualdade de condições para o acesso e permanência na instituição educativa; definir e efetivar diretrizes nacionais para os níveis, ciclos e modalidades de educação ou ensino; implementar sistemas de avaliação para subsidiar o processo de gestão educativa e para garantir a melhoria da aprendizagem; implementar programas suplementares; de acordo com as espeficidades de cada Estado, Distrito Federaç e Município, dos níveis e modalidades de educação como livro didático, privilegiando recursos educacionais abertos, alimentação (II, 11) escolar, saúde do/da estudante, transporte escolar, recursos tecnológicos livres, segurança nas escolas.

91. … no lugar de simplesmente laboratórios de informática deveríamos nos referir à tecnologias digitais de informação e comunicação, com software livre, e privilegiando os recursos educacionais abertos….

Observem que em todo os dois volumes, o tema Software Livre e Recursos Educacionais abertos é mencionado apenas como as aprovadas em menos de cinco estados, se corretamente fiz a leitura dos mesmos.

Aqui, um detalhe importante diz respeito ao licenciamento dos produtos que estão sendo elaborados e produzidos para a Universidade Aberta do Brasil (UAB) pelas nossas universidades públicas, com recursos públicos e, que, na minha modesta opinião, precisam ser abertos e livres igualmente.

Sobre a educação a distância, creio ser desnecessário dizer do absurdo de uma política que contrata tutores para serem professores com salário/bolsas aviltantes. Além da necessária insititucionalização da EAD das universidades e não do tratamento da mesma como “complemento” de atuação e salários para os docentes.

Colegas, perdoem-me mais uma vez tão longo email. Perdoem também serem apenas pontos soltos sem um grande aprofundamento. Mas a idéia é justo a de poder provocar e contribuir. Espero que compreendam a minha intenção.

Estou à disposição para complementações e esclarecimentos. Estou escrevendo algumas dessas coisas com mais links no meu blog, que pode ser acessado a partir de minha página na internet (que está de cara nova desde ontem! em www.pretto.info.

abracos fraternos