Programa Ponto Com Ponto Br aborda REA

O que tá rolando na internet? É com base nesta pergunta que toda segunda-feira acontece o Ponto Com Ponto BR, o programa de rádio transmitido pela Nacional de Brasília e produzido em parceria com a equipe do Portal EBC. O programa debate de cidadania, educação e cultura digital.

Na última segunda-feira (24) Recursos Educacionais Abertos foi o tema do programa. Os apresentadores conversaram com a advogada especialista em propriedade intelectual e direito na internet, Carolina Rossini. Ela tem se dedicado à causa REA no Brasil desde 2008, em parceria com diversas instituições do país como Fundação Getúlio Vargas, Creative Commons Brasil, Casa da Cultura Digital, Instituto Educadigital; além de organizações internacionais como Unesco, Wikimedia Foundation e OpenKnowledge Foundation.

Priscila Gonsales, diretora executiva do Instituto Educadigital, trabalha com educação na cultura digital há mais de dez anos. O Instituto realiza formações em REA para distintos públicos e é responsável pelo trabalho de advocacy junto aos governos municipais, estaduais e federal.  O programa também ouviu o doutor em Comunicação pela USP e professor da Universidade Federal da Bahia, Nelson Pretto. Ele tem dedicado suas pesquisas e práticas em torno da formação do professor-hacker. E não se engane! O sentido de “hacker” aqui é de alguém que domina muito bem um assunto, bem diferente daquela visão de alguém que vai invadir o seu computador.

Débora Sebriam, gestora de Comunicação do Projeto REA Brasil, participou ao vivo do programa comentando o Seminário Internacional REA de Brasília. Acesse a EBC rádios e ouça o programa na íntegra.

Texto remixado da EBC Rádios: http://radios.ebc.com.br/ponto-com-ponto-br/edicao/2015-08/conteudo-abertos-na-web-podem-mudar-forma-de-aprender-entenda-no

Meedan: conectando conhecimento entre diferentes culturas e idiomas

Compreender distintas culturas, trocar ideias, informações e conhecimentos entre diferentes idiomas, essa é a ideia do Meedan! Para entender melhor o trabalho dessa organização e sua relação com os Recursos Educacionais Abertos, conversamos com Caio Almeida, brasileiro, engenheiro de software que faz parte do time.

REA Brasil: O que é Meedan e como vocês atuam? Qualquer pessoa interessada pode contribuir?

Caio Almeida: o Meedan é uma organização sem fins lucrativos que atua com tecnologia social e tem base em São Francisco, Estados Unidos. A missão do Meedan é promover a compreensão entre culturas distintas e colaboração, fornecendo tecnologias avançadas para troca de ideias, informações e conhecimentos entre idiomas, com foco primário em inglês e árabe.

Os times de engenharia e design do Meedan trabalham para desenvolver ferramentas de código aberto para conectar conteúdos entre idiomas distintos, enquanto o time de programa do Meedan trabalha para implementar estas tecnologias com organizações parceiras trabalhando em jornalismo em novas mídias e recursos educacionais abertos.

REA Brasil: Quem pode fazer parte do Meedan? Qualquer pessoa interessada pode contribuir?

Caio Almeida: Atualmente o Meedan possui um time de colaboradores ao redor do mundo, e há sempre o interesse em atrair novos. Há várias formas de contribuir com o Meedan, seja através da tradução de conteúdo, criação de conteúdo, desenvolvimento de ferramentas, utilização das ferramentas, parceria para desenvolvimento de novos projetos ou promoção da causa e dos valores que a organização acredita e defende.

O Meedan mantém uma comunidade crescente de tradutores profissionais e voluntários. Os tradutores compartilham suas experiências e colaboram em traduzir textos sofisticados, além de mobilizar e recrutar novos voluntários para responder a eventos urgentes.

REA Brasil: Vocês tem diversos projetos, e entre eles, um projeto de Recursos Educacionais Abertos, como funciona esse projeto? Quem cria os recursos? Estão disponibilizados online para qualquer pessoa?

Caio Almeida: Permitir o acesso a recursos educacionais abertos é uma grande prioridade da organização. O projeto de recursos educacionais abertos é uma parceria do Meedan com outras organizações que compartilham do mesmo objetivo, como a Fundação Qatar Internacional, para criar uma comunidade sustentável para compartilhamento de recursos educacionais abertos em árabe.

Dentre as diversas iniciativas, pode-se citar o importante projeto Open Book, que é uma iniciativa para expandir o acesso a recursos educacionais abertos, livres e de alta qualidade, em árabe, com foco em ciência e tecnologia e aprendizado online. O objetivo deste projeto é criar recursos educacionais abertos em árabe e traduzir para este idioma recursos educacionais abertos existentes, além de disseminar os recursos sem custos através dos parceiros e suas plataformas, e oferecer suporte a governos, educadores e estudantes para que os recursos existentes sejam colocados em uso e para que possam desenvolver seus próprios REAs.

O Meedan também formou uma parceria com a Taghreedat (iniciativa voluntária para tradução de conteúdo árabe) para trabalhar conjuntamente na promoção da adaptação e tradução de recursos educacionais abertos para o idioma árabe. O foco da colaboração é a tradução de recursos educacionais abertos para o árabe e o aumento da disponibilidade destes recursos para usuários ao redor do mundo, em especial, estudantes.

Promovendo REA na sala de aula

Caio teve a oportunidade e o prazer de trabalhar em 2012 como engenheiro de software em projetos para promover o acesso a recursos educacionais abertos entre salas de aula e de professores para professores.

O primeiro foi o YALLAH 2.0 (sigla inglês para “Juventude Aliada para Aprender, Liderar E Ajudar”), um fórum de discussão online entre idiomas para os alunos participantes dos programas de intercâmbio de estudantes da Fundação Qatar Internacional (QFI). A ideia surgiu de dois alunos do programa, que visionaram uma comunidade de cidadãos globais, liderada por jovens, capazes construir ligações mais fortes com seus pares, superando as barreiras geográficas e culturais. Esta plataforma utiliza tradução automática de conteúdo, mas com possibilidade de alteração por usuários, e hospeda discussões moderadas sobre os mais diversos tópicos, nos idiomas inglês, português ou árabe, independentemente do idioma original em que foi escrito.

O outro projeto, foi o C2C (sigla em inglês para “De Sala de Aula para Sala de Aula”), plataforma educacional para a Fundação Qatar Internacional (QFI), uma comunidade online para educação global e aprendizado social, dedicada também a descoberta de recursos.

Conheça o Meedan

Acesse: http://meedan.org

Conheça Caio Almeida

Caio é engenheiro de software no Meedan, nasceu em Salvador, onde vive atualmente. Ele conheceu o mundo do software livre em 2005, antes de entrar na Universidade, e se apaixonou por ele. Ele se formou em Ciência da Computação na Universidade Federal da Bahia e atualmente faz mestrado na mesma instituição.

Caio colabora com alguns projetos de software livre como o Noosfero, Moodle, Inkscape, JavaScript e participa de eventos como o Moodle Moot, Conferência Web W3C,  Fórum Internacional de Software Livre, entre outros.

Caio gosta de desenvolver aplicações web interativas usando apenas JavaScript, padrões abertos e tecnologias abertas, mostrando que um mundo sem flash é possível.

Maria do Socorro Braga Reis, José Pereira Smith e Joneson Rosa dos Reis

Maria do Socorro Braga Reis. Licenciada em Letras pela UFPA – 2002. Professora da rede pública estadual, lecionando Língua Portuguesa e Informática na Educação, no ensino médio na Escola Profª Yolanda Chaves, em Bragança-PA e Língua Portuguesa no ensino fundamental na escola Profª Rosa Athayde em Augusto Corrêa-PA.  Discente do 5º período (penúltimo) do Curso de Licenciatura em Computação UFRA/PARFOR. 2010/2 – Polo Capanema-PA

José Pereira Smith Júnior. Licenciado em Matemática pela Universidade Estadual do Pará- 2005. Professor de ensino fundamental e médio da Secretaria de Estado de Educação nas escolas de Capanema-PA e Primavera-PA Discente do 5º período (penúltimo) do Curso de Licenciatura em Computação UFRA/PARFOR. 2010/2 – Polo Capanema-PA

Joneson Rosa dos Reis. Discente do 5º período (penúltimo) do Curso de Licenciatura em Computação UFRA/PARFOR. 2010/2 – Polo Capanema-PA atua como professor na sala de informática EMEF Padre Leandro Pinheiro em Quatipuru-PA, e também lotado na SEMED.


Entrevista concedida a Débora Sebriam em 03/2013

REA Brasil: Como e quando vocês descobriram os Recursos Educacionais Abertos?

Os REAs fazem parte da nossa rotina pedagógica, usamos o Linux Educacional 4.0 nas Salas de Informática, e que possui uma grande suíte de aplicativos, mas efetivamente começamos a usar a partir dos conteúdos das disciplinas da Licenciatura em Computação.

REA Brasil: Para vocês o que é REA?

Para nós os REAs são qualquer material que potencialize a construção da aprendizagem.

REA Brasil: Como surgiu a motivação para escrever um TCC sobre REA?

Surgiu a partir de pesquisas feitas na Disciplina Projeto Integrador I, onde fizemos uma coletânea de Objetos de Aprendizagem (OA), tipo Hagáquê, RIVED e muitos outros, que foi aplicado em nossa prática, o curso nos deu suporte para aprendermos programação, o Smith Júnior se aperfeiçoou em Java, então começamos a nos questionar sobre a possibilidade de criar OAs para atender a nossa realidade. Assim, foram surgindo os OAs, isso nos deu uma motivação maior para escrever sobre os OAs, e assim apresentar as nossas crias, claro que temos a professora Janaina Costa que acreditou na gente, e é nossa orientadora e faz muita diferença.

REA Brasil: Vocês estão desenvolvendo objetos de aprendizagem disponibilizados no blog http://jogoseducativoss.blogspot.com.br Quais os formatos desses Objetos de Aprendizagem? Vocês irão implementar licenças flexíveis, como as do Creative Commons?

Os nossos OAs são instrucionais, uns possuem áudio, bem simples. Assim que tivermos concluído o projeto, vamos sim disponibilizar os códigos, implementando uma licença no formato uso não comercial. Assim, poderão fazer adaptações. Ainda não chegamos a um consenso de como faremos. Mas a certeza que temos que os códigos serão disponibilizados de forma livre.

REA Brasil: Como vocês acham que o estudo de vocês pode contribuir para que mais professores adotem e criem REAs?

É interessante o uso dos REAs nas metodologias aplicadas em sala de aula, principalmente se pode ser executado em locais sem internet, fica ainda melhor. Por isso, nos preocupamos com a questão dos Objetos e Aprendizagem poderem ser carregados em qualquer mídia, por exemplo, funcionam muito bem no pen drive e nos Cds. Eles podem ser usados para a verificação da aprendizagem da aula dada. Estamos tendo experiências muito positivas quanto ao uso dos REAs em sala de aula. Estamos fazendo uma verdadeira peregrinação para disponibilizar os OAs para os professores, principalmente os das escolas do meio rural, lá tem computador, mas sem conexão com internet. Os professores estão utilizando no pen drive.

REA Brasil: O que diriam para os educadores que desejam começar a trabalhar por e com REA?

Hoje, temos que nos adaptar as mudanças que a tecnologia faz em nossas vidas, os alunos estão sedentos por metodologias diferenciadas, afinal eles são nativos digitais, faz parte da cultura deles, ser íntimos das tecnologias que transbordam a todo instante. A escola não pode ficar a margem disso tudo, os paradigmas mudaram, hoje somos mediadores do conhecimento, antes éramos os portadores, aliás, fazer uso dos recursos disponíveis, e não poucos já é uma exigência do contexto escolar, nós vemos que o cerco está se fechando, aqui no Pará todos os professores de ensino médio vão receber um Tablet. Este evento vai forçar a utilização dos REAs na educação. A Socorro, em 2011 executou um projeto com o 1º ano ensino médio onde os alunos catalogaram muitos REAs que poderia ajudar o professor a melhorar a sua metodologia com as ferramentas disponíveis na escola. O trabalho foi no Facebook e no Blog da Escola, o encarte foi impresso, na tentativa de cercar todas as possibilidades e também mereceu uma postagem no Portal do Professor (MEC). Um dos caminhos para potencializarmos os conteúdos passa pela inserção das tecnologias na escola. Quando isso acontecer efetivamente vamos ter um arsenal fantástico de  troca de saberes, onde a vivencia pedagógica não será mais unilateral.

Opinião: realizações, progresso e esforços para promoção de REA no mundo

No fim de outubro, Fred Mulder (UNESCO chair in OER – Open Universiteit in the Netherlands), em entrevista ao “elearningeuropa.info”, fala das realizações e dos esforços para se promover a temática REA em todo o mundo.

De acordo com Mulder, o movimento REA já não é realizado por “militantes” e especialistas em educação e tecnologia. Atualmente é um movimento de muitas instituições e um número crescente de governos está ciente da importância de REA. Segundo o pesquisador, o movimento precisa de 20 ou 30 anos para chegar a sua realização final em todo o mundo.

Quando questionado sobre os próximos passos para o desenvolvimento de REA, Mulder afirma que os governos precisam se tornar mais ativos e comprometidos com políticas públicas de REA e que as instituições devem explorar mais iniciativas REA. Para ele, os governos devem saber que os REA tem o potencial de aumentar a acessibilidade, a qualidade e a eficiência da educação. As instituições devem estar cientes das grandes oportunidades que REA tem a oferecer e que existe um campo de experimentação aberto pela frente.

Para Fred Mulder, a princípio, REA pode reduzir as desigualdades na educação, porque o acesso aos materiais de aprendizagem é de 100% se eles estiverem disponíveis na internet, mas isso não significa que não existem barreiras. Ele cita o exemplo da conectividade, que pode não existir ou ser problemática. Aqui no Brasil, sabemos que a questão da banda larga é uma grande barreira para o acesso em vários locais do país. Ele cita também a relevância do componente cultural e lembra que simplesmente traduzir material não é suficiente, a adaptação ao contexto cultural é necessária.

Quando o que está em jogo é o custo do material didático, o pesquisador cita o exemplo dos livros didáticos abertos adotados em alguns estados dos Estados Unidos, onde além de se observar a redução de custos em relação aos preços aplicados pelas editoras tradicionais, a redução de custos também decorre do fato de que não é mais necessário que várias universidades ou equipes de autores desenvolvam cursos completos partindo do zero, uma vez que, é possível remixar ou aprimorar bons materiais que já estão disponíveis.

Leia a entrevista completa aqui.