Departamento de Biologia Celular da UFPR disponibiliza Recursos Abertos

Para contribuir com a aprendizagem em Ciências e Biologia o Núcleo de Ensino, Pesquisa Extensão do Departamento Biologia Celular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) produz materiais didáticos abertos como vídeos, materiais interativos, modelagem 3D e hipertextos voltados para o ensino fundamental e ensino médio.

Esses recursos possuem licenças Creative Commons, ou seja, permitem que o usuário possa usar, modificar, adaptar e remixar conforme as suas necessidades. Quem acessa o site também pode enviar sugestões de mudanças para a equipe do NUEPE.

Acesse o site aqui.

Hewlett Foundation e o futuro dos REA

O ótimo encontro anual da Hewlett Foundation tornou-se quase uma conferência sobre REA, na linha da OEC (Internacional), OE (EUA) e OER (Inglaterra). O enfoque é o encontro dos grupos e organizações que receberam algum apoio financeiro da Hewlett além de observadores e pessoas que trabalham nessa área. É uma das fundações que mais apoia o movimento REA, e o faz há muito tempo.

No encontro desse ano ficou claro um interesse no “mercado” e retornos financeiros como redução de gasto, por exemplo. Houve também demanda por pesquisas que possam demonstrar uma relação entre os recursos e o aprendizado dos alunos. A grande mensagem foi: “encontre um problema onde REA possa ser uma solução e ataque”. Estamos nos EUA e por aqui, a crise do ensino superior domina o discurso particularmente o alto custo de livros didáticos (veja a alternativa oferecida pelo OpenStax). Não por menos, o filme que vimos para fomentar uma discussão foi Ivory Tower.

Puxando a sardinha para o nosso lado, houve maior espaço dedicado a pensar nos grandes desafios internacionais e na necessidade de articulação global sobre o tema. Em um dos encontros discutimos a situação de refugiados, a necessidade de produção colaborativa e articulada de recursos, além de um renovado interesse em fomentar awareness (sensibilização), o que alguns já davam como ultrapassado. Nesse sentido, continuou a boa discussão em torno do OER World Map (mapa global REA, participamos com o MIRA e continuamos como parceiros estratégicos) que além de uma boa estrutura de dados básicos, terá um enfoque em histórias sobre pessoas, projetos e organizações ao redor do planeta. É uma ótima ferramenta para diversificar os exemplos e modelos que usamos para falar de REA (ainda) focados particularmente nos EUA, e em inglês.

É prudente a chamada por mais pesquisa e projetos que tenham maior foco e resultados mais claros; é um sinal de maturidade quando conseguimos identificar problemas específicos e apresentar evidências de sucesso. Ao mesmo tempo corre o risco de alimentar um ciclo vicioso em busca de grandes impactos de curto prazo. Mas estamos no coração do Silicon Valley onde há sempre um embate entre a ética e a eficiência. Por um lado precisamos criar, compartilhar e difundir REA simplesmente porque as práticas e modelos associados a REA estão alinhados a educação que queremos, mesmo que esse processo não seja eficiente, comparativamente. Podemos aprimorar nossas práticas enquanto “práticas abertas”, e não necessariamente em comparação com outro modelo mais eficiente. O foco excessivo em métricas leva a um grande risco, tão evidente na área de tecnologia educacional, da busca  por relações tênues entre o uso de recursos abertos e a melhoria do aprendizado (pra começar, vale ler um clássico. Quando o resultado não aparece, joga-se fora a iniciativa, mesmo que essa pudesse contribuir com outros objetivos. Esse não é, como nos demonstra a história, um caminho frutífero.

Foi também proposta uma discussão sobre os grandes temas da área, um rascunho chamado Foundations for OER Strategy Development. O documento está aí e disponível para comentários e sugestões (em inglês). É um resumo dos problemas, tensões e algumas sugestões para o movimento REA. Durante a discussão em grupo realizada no evento, questionamos o significado de um documento como esse. Precisamos, alguns perguntaram, de mais um documento de alto nível para apontar grandes problemas e questões? Dois documentos recentes apoiados pela Helwett seguem a mesma linha:

West, P. G., & Victor, L. (2011). Background and action paper on OER. The William and Flora Hewlett Foundation.

Atkins, D. E., Brown, J. S., & Hammond, A. L. (2007). A Review of the Open Educational Resources (OER) Movement: Achievements, Challenges, and New Opportunities. The William and Flora Hewlett Foundation.

Isso indica que ainda nos falta articulação e maturidade? Ou é um exercício de reflexão que precisa acontecer periodicamente?

*Tel Amiel é pesquisasor da UNICAMP, membro da comunidade REA Brasil, coordenador da Cátedra UNESCO em Educação Aberta e conselheiro do Instituto Educadigital.
*Esse texto foi publicado originalmente em Educação Aberta e possui licença CC-BY.

O Advocacy e a Educação Aberta

Por Priscila Gonsales e Débora Sebriam • Publicado em ARede.educa

Você pode ainda não ter ouvido falar nessa expressão de origem inglesa “advocacy” (lê-se advócacy), mas certamente já acompanhou ou participou de alguma atividade provocada por ela. Sem tradução direta para o português, advocacy significa criar e realizar ações ou iniciativas para defender uma causa de interesse público junto a determinados setores da sociedade civil e governantes tomadores de decisão de políticas públicas. Um trabalho de advocacy pode, por exemplo, influenciar a elaboração de projetos de lei que vão trazer benefícios para a população.

Alguns exemplos bem atuais:

Movimento Passe Livre, que luta por um transporte público gratuito para toda a população
Marco Civil da Internet, lei sobre direitos e deveres de usuários da internet, concebida com participação popular e aprovada em junho de 2014, que agora deve ser regulamentada
Combate ao trabalho infantil, para garantir o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
Defesa da demarcação de terras indígenas, pelo cumprimento do direito indígena à terra

Educação aberta e recursos educacionais abertos (REA) são também uma causa que vem sendo defendida por muitas pessoas em todo o mundo, por meio de um trabalho de advocacy. O objetivo é lutar pelo direito ao livre acesso de toda a sociedade aos materiais e recursos educativos comprados e/ou produzidos com dinheiro público. Em novembro de 2014, na capital estadunidense de Washington, durante a OpenEd – o maior congresso mundial de educação aberta – o Instituto Educadigital e outras organizações de vários países participaram de uma atividade de advocacy de REA diretamente com políticos e assessores técnicos na Casa Branca. O objetivo era destacar os benefícios da atual política pública do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em relação a REA, para que seja mantida e ampliada aos demais níveis de ensino. Além disso, o grupo ressaltou a importância de essa experiência ser compartilhada com governos de outros países por meio de congressos e seminários.

A cada ano, uma quantidade imensa de dinheiro público (da ordem de milhões) é utilizada pelos governos de todo o mundo na compra de materiais didáticos impressos e digitais que não são REA e, portanto, são de acesso restrito, inibindo as possibilidades de reprodução, criação e adaptação de conteúdos por educadores e estudantes. Em 2012, a Unesco realizou em Paris (França) o Congresso Mundial de REA, convidando lideranças públicas governamentais do mundo todo a determinar que recursos educacionais financiados com recursos públicos devem adotar o modelo REA.

Por definição oficial da Unesco/Commonwealth, REA são materiais de ensino, aprendizado e pesquisa, fixados em qualquer suporte ou mídia, preferencialmente em plataformas ou formatos livres (software livre) que estejam sob domínio público ou licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros. Recursos Educacionais Abertos podem incluir cursos completos, partes de cursos, módulos, livros didáticos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software, e qualquer outra ferramenta, material ou técnica que possa apoiar o acesso ao conhecimento. Tal definição data de 2011 e foi redigida com ajuda da Comunidade Recursos Educacionais Abertos (REA) do Brasil.

Atuando junto à Comunidade REA desde 2008, o projeto REA.br, conduzido atualmente pelo Instituto Educadigital com apoio financeiro da Open Society Foundations, vem trabalhando para transformar a política pública de acesso a recursos educacionais financiados com orçamento público. Alguns resultados já podem ser observados nos últimos três anos, tanto em nível federal como estadual e municipal. Um deles é o Plano Nacional de Educação (PNE), que contempla o incentivo a REA nas metas 5 e 7, que focam respectivamente na alfabetização de todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental e na melhoria da qualidade da educação básica por meio do aumento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Ainda no âmbito federal, destaca-se o Projeto de Lei 1513/2011, que visa garantir que as compras públicas ou contratação de serviços e materiais educacionais sejam regidas por meio de licenças livres, permitindo a difusão e a ampliação do acesso a esses bens por toda a sociedade.

Na cidade de São Paulo, integrantes da comunidade REA ajudaram a criar uma política pública de REA. Em 2011, o então secretário de educação da capital, Alexandre Schneider, convencido da importância do tema, atuou para que o prefeito promulgasse o Decreto 52.681, que dispõe sobre o licenciamento obrigatório das obras intelectuais produzidas ou subsidiadas com objetivos educacionais, pedagógicos e afins, no âmbito da rede pública municipal de ensino. Hoje, quem entra no site da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo já localiza a licença definida para uso dos materiais disponíveis.

Outra frente de ação do projeto REA.br, que foi vencedor do Prêmio ARede 2014  (categoria especial educação), é formação de educadores e articulação de redes sociais para expandir o debate em torno de REA. O grupo REA no Facebook, por exemplo, já tem mais de 10.500 participantes de várias regiões do país (dados de fevereiro de 2015) e não para de crescer, novas solicitações de participação chegam diariamente.

Para saber mais sobre iniciativas brasileiras e internacionais sobre REA, vale acompanhar os eventos que ocorreram durante a Open Education Week, de 9 a 13 de março. O Instituto Educadigital organizou quatro hangouts em português sobre REA e as gravações estão disponíveis aqui: http://www.bit.ly/openeducationweek

Comunidade REA promove encontro de cocriação em São Paulo

O movimento REA no Brasil completa 7 anos de vida em 2015. Nesse tempo tivemos vários avanços na área, entretanto, os desafios ainda são inúmeros, inclusive o de promover alguns encontros que extrapolem o mundo virtual. No dia 18/03 conseguimos realizar o primeiro encontro presencial do ano em São Paulo. Esse encontro de cocriação foi mediado pelo Instituto Educadigital (gestor regional do Projeto REA.br) e foi usada a abordagem do Design Thinking para prototipar possíveis soluções para alguns dos principais desafios da causa REA. Uma das grandes riquezas do encontro é que conseguimos reunir veteranos do movimento com pessoas recém chegadas a comunidade, além de os perfis de atuação serem bem amplos.

Devido ao curto período de tempo do encontro, nós optamos por trazer alguns desafios já elaborados e contextualizados e três grupos de pessoas trabalharam cada um deles, sendo:

1. Como podemos engajar mais pessoas na causa REA?

Todos os dias recebemos dezenas de novos membros na comunidade REA. Essa entrada acontece principalmente pelo Facebook em decorrência dos compartilhamentos dos membros, entretanto, notamos que poucas pessoas acompanham as postagens ou contribuem com links e opiniões.

2. Como podemos ampliar a cooperação entre pessoas da comunidade?

Uma característica de nossa comunidade é acompanhar os fatos e notícias sobre REA e Educação Aberta, entretanto, tivemos várias oportunidades de elaborar documentos e propostas em conjunto e a adesão normalmente é muito baixa. Como exemplos, podemos citar a carta aberta ao governador de São Paulo em decorrência do veto ao PL REA ou a força-tarefa de tradução do site REA para o inglês, situações chave em que não houve envolvimento da comunidade.

3. Como podemos levar a formação em REA para mais educadores pelo Brasil?

REA cria a oportunidade para uma mudança fundamental e transformadora: a alteração do consumo passivo de recursos educacionais, para o engajamento formal de educadores e alunos no processo criativo de desenvolvimento de conteúdo. Após a reformulação do site REA em 2014 e a abertura de um canal direto de solicitação de palestras e oficinas a demanda aumentou consideravelmente. Diversas prefeituras e universidades (tanto públicas, quanto particulares) de todo o Brasil entram em contato, mas acabamos não conseguindo realizar a maioria delas por questões logísticas e de custo.

4. Como podemos obter mais financiamento para nossas ações de advocacy?

Uma das grandes missões do projeto REA.br é prover inovação em política pública de educação, e para isso, conta com um financiamento internacional desde 2008. Todas as ações do projeto estão atreladas a esse orçamento que muitas vezes não é suficiente para cobrir todas as demandas previstas, como por exemplo, as viagens para dialogar com os políticos e a organização de eventos. No caso de não haver mais esse financiamento como poderíamos sustentar as nossas ações pelo país?

De maneira bem resumida segue alguns pontos das soluções imaginadas na prototipagem (os participantes do encontro fiquem a vontade para complementar/mudar/adaptar essas informações):

1. “Como podemos engajar mais pessoas na causa REA?” e “Como podemos ampliar a cooperação entre pessoas da comunidade?”

O grupo elaborou uma estratégia dividida em duas partes:

  • Ter a figura de um comunicador, mas isso não se viabilizaria sem um ambiente colaborativo para enviar mensagens, compartilhar calendário de eventos, algo que funcionasse como uma rede social.
  • Esse ambiente online acolheria as pessoas da comunidade, seria gamificado (tipo um waze do REA). Ofereceria possibilidades de associação entre pessoas que tem interesses comuns (se eu baixo um conteúdo do ambiente, o sistema me diz que as pessoas A, B e C também baixaram esse conteúdo). Esse espaço traria materiais, um calendário de eventos locais e online, ofereceria feedback, tentaria conectar pessoas de áreas de atuação diferentes mas que possuem interesses comuns e também poderia ser um espaço para propor encontros presenciais e online para troca de experiências.
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2. Como podemos levar a formação em REA para mais educadores pelo Brasil?

O grupo propôs um app de celular chamado “Professor Aberto”. Essa app traria conteúdo aberto e a possibilidade das pessoas contribuírem enviado novos materiais e elas escolheriam as licenças de uso. Uma das estratégias para explicar o REA para as pessoas seria, por exemplo, uma pessoa clica em uma imagem e quando ela escolhe fazer download apareceria uma explicação sobre REA e o que é possível fazer com aquela imagem. O grupo também pontuou inserir elementos de gamificação para estimular os professores, ser um ponto de encontro entre as pessoas.

3. Como podemos obter mais financiamento para nossas ações de advocacy?

O grupo propôs tentar colocar a pauta nos grandes meios de mídia para ganhar espaço com possíveis financiadores. Citaram como exemplo a força que ganhou o Marco Civil da Internet.

Esperamos conseguir realizar esses encontros com mais frequência e esperamos que pessoas que residem em outros estados do Brasil também se mobilizem para realizar essas reuniões e trocar experiências e tentar trazer novas ideias para os desafios. O pessoal do Paraná já se manifestou em relação a isso nas redes sociais 🙂

Como sugestão da Paula Ugalde, convido a todos para deixarem aqui o seu comentário para possíveis soluções para os desafios levantados.

Avante!

PS: Quem esteve presente e tem fotos de boa qualidade compartilhe! Como vocês puderam notar essas não estão boas.

Escola Paulistana cria Repositório de Recursos Educacionais Abertos

O Centro Educacional Pioneiro é a mais nova escola de educação básica a lançar um repositório de Recursos Educacionais Abertos. O Pioneiro é um colégio que tem como tradição a produção de materiais pelo seu corpo docente e acredita na democratização do acesso ao conhecimento para todos. Dessa premissa nasceu a ideia do Pioneiro Digital, um repositório institucional para compartilhar os recursos educacionais produzidos por professores e alunos.

O caminho começou a ser trilhado em 2012 com um projeto piloto realizado com alunos do ensino médio. A escola aproveitou a dinâmica dos trabalhos coletivos associados ao estudo do meio e trabalhou com os alunos temas como a Educação Aberta e o licenciamento aberto de materiais educativos. Como resultado foram publicados livros de contos com licenças escolhidas pelos autores.

O Pioneiro Digital foi concebido como um recurso educacional aberto e redesenhado a partir de projetos já estabelecidos como Escola Digital, REA Dante e Porto OEC, um conceito hoje conhecido como remix. Para manter a proposta de ser um recurso aberto foi utilizada a plataforma WordPress, que é um software livre. Todos os materiais disponibilizados possuem uma licença aberta do Creative Commons, uma alternativa ao “copyright” que garante o direito autoral e algumas liberdades aos usuários finais que são definidas pelo próprio autor.

Para garantir a facilidade de uso, a pesquisa pode ser feita por palavras-chave, tipos de mídia, ou busca combinada com diversos filtros que podem ser selecionados de forma combinada para que você refine a sua busca.

O próximo passo da instituição é realizar formação com os professores para estimular a participação no ambiente. Enquanto isso, fica o convite para usar, remixar e compartilhar! Acesse: www.pioneiro.com.br/pioneirodigital

Fonte: Centro Educacional Pioneiro

REA.br participa da Campus Party Brasil 2015

Campus Party Brasil é um dos principais acontecimentos tecnológicos do país nas áreas de inovação, ciência, cultura e entretenimento digital, reunindo milhares de pessoas para debater os principais temas de cada um destes universos.

O movimento REA participa anualmente da Campus Party desde 2011 e já contribuímos com oficinas e palestras. Esse ano vamos propor uma atividade em parceria com a Revista ARede que mobilize pessoas para criação de conteúdo.

Os participantes da atividade deverão realizar entrevistas com participantes da Campus Party no formato de vídeo de celular de no máximo 1 minuto. As pessoas entrevistas deverão responder a pergunta “o que é Educação Aberta pra você”? Os vídeos serão inseridos pelos próprios participantes no canal do Vímeo do Instituto Educadigital e será escolhida uma licença Creative Commons. No final da atividade serão sorteados brindes como camisetas, adesivos, bombons e etc.

Já fechamos parceria com a Imprensa Jovem do projeto Nas Ondas do Rádio, mas reforçamos o convite para todos que estarão presentes.

Essa atividade também marca o início de uma feliz parceria entre o Instituto Educadigital (REA.br) e a Revista ARede. Iremos iniciar uma coluna mensal, a “Livre Saber”, para falar de REA e Educação Aberta.

Quando? 06/02 das 14h às 16h
Onde? Cantinho da Revista ARede. A gente se vê na Campus 🙂

Crédito de Imagem: Márcio de Assis / CC-BY-SA

Conhecimento livre e universal

Conceito que defende conteúdos e práticas educacionais abertos, criado pela Unesco, começa a se disseminar no Brasil.


Texto Fatima Fonseca | Fonte ARede | Licença CC-BY-SA

 ARede nº 101 – especial novembro de 2014

A CONCEPÇÃO de educação aberta se dissemina pelo Brasil, incentivando a produção de conteúdos para o uso comum e de políticas públicas para uma educação livre. O conceito de Recursos Educacionais Abertos (REA), elaborado em 2002, em um congresso da Unesco, já é aplicado em 22 países. O Instituto Educadigital (IED) criou, em 2008, o REA.br, projeto vencedor do Prêmio ARede 2014.

São considerados recursos educacionais abertos conteúdos, metodologias e práticas em qualquer suporte ou mídia de domínio público ou sob licença de uso flexível. A proposta agrega quatro premissas: usar, aprimorar, recombinar e distribuir. “A ideia é que professores e alunos se tornem produtores de conhecimento, não apenas meros usuários”, explica Priscila Gonsales, diretora do IED.

Jornalista com especialização em comunicação, educação e tecnologias digitais, Priscila atua na área desde 2001. Em 2009, se engajou na comunidade REA – sigla em português para Open Educational Resources. Em 2011, assumiu a gestão do projeto, que tem no conselho consultivo, entre outros, a advogada e especialista em propriedade intelectual e direito da internet, Carolina Rossini; e o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, Nelson Pretto.

“Com o salto possibilitado pela tecnologia, educadores e educandos passam a ser produtores de formação e conhecimento, mas para isso precisam entender o que realmente é gratuito e aberto”, comenta Priscila, informando que rede REA tem se dedicado a ajudá-los a entender políticas como a do creative commons.

Ainda há muito terreno a ser conquistado no Brasil. Uma das razões, acredita Priscila, é que nem tudo que está na internet pode ser usado livremente. “O entendimento do que pode ou não ser reproduzido precisa ser contextualizado de acordo com a nossa Lei de Direito Autoral”, explica. E dá um exemplo: pela lei, uma obra autoral só é de uso livre 70 anos após a morte do autor.

A comunidade REA.br reúne 273 profissionais em uma lista de e-mails e quase 8 mil no Facebook, mídias por meio das quais a rede articula seu trabalho, que tem três frentes. A primeira é a orientação de políticas públicas, que acontece em oficinas com representantes do setor legislativo, em uma articulação para que a educação aberta se torne lei. A comunidade já conseguiu a aprovação, pela Assembleia Legislativa de São Paulo, de um projeto de lei – que acabou vetado pelo governo do Estado. Também colocou o tema na pauta do legislativo do Paraná e do Distrito Federal, onde tramitam projetos similares. O tema está em debate ainda na Câmara dos Deputados.

A maior conquista, até agora, foi um decreto da prefeitura de São Paulo, que orienta os princípios da educação aberta. “Na Câmara, a matéria está em discussão para que o PL seja desvinculado da Lei do Direito Autoral, de modo a não dificultar o encaminhamento”, informa Priscila.

No Distrito Federal, o conceito REA foi encampado pela Secretaria de Educação. “Trabalho em uma área que trata do uso pedagógico das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) e estamos implantando uma rede social de aprendizagem, toda em software livre”, relata Cristina Moreira, coordenadora de modernização da gestão da educação. “É um projeto de plataforma livre e um dos diferenciais teóricos é o conhecimento livre, o que compreende acesso aberto, software livre e recursos educacionais abertos”, diz a coordenadora. Segundo ela, uma das ações do projeto, que será lançado em 2015 pela Secretaria de Educação, é um portal. “Nossa proposta é ter uma biblioteca digital REA no DF para que os professores depositem o material didático e façam consultas”, informa.

FORMAÇÃO DE GESTORES
O segundo foco é a formação de gestores públicos. As oficinas também são organizadas a partir da interlocução com a comunidade REA. Este ano, na Bahia e no DF, foram capacitadas 95 pessoas. “Nas oficinas explicamos os conceitos e fazemos exercícios práticos do uso da licença”, explica a diretora do IED. Por último, há o foco na pesquisa, na produção do conhecimento e na disseminação da informação. “No site postamos informações e referências sobre direito autoral, educação aberta, licenças livres, além de notícias e entrevistas sobre iniciativas REA no Brasil e no mundo”, conta Priscila.

O REA.br é financiado pela Open Society Foundation, que destina anualmente US$ 90 mil ao projeto, o que cobre 80% dos custos. O restante vem de doações e da receita obtida com cursos, palestras e oficinas. Além do parceiro financiador e do apoio institucional da Unesco, tem apoio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Creative Commons Brasil, da Wikimedia Foundation, do Impact Hub São Paulo e da Ashoka Brasil. O site foi construído com a ferramenta WordPress e as apresentações são feitas em LibreOffice. Além da lista de discussões no Google e do Facebook, são usadas ferramentas de outras mídias sociais, como Twitter, Flickr, Youtube e Slideshare.

Panorama Setorial da Internet discute as possibilidades trazidas pelos REA

Acaba de ser publicada a nova edição do Panorama Setorial da Internet que discute as possibilidades trazidas pelos recursos educacionais abertos, explorando os dados da TIC Educação 2013.

Segundo Bianca Santana, uma das possibilidades mais adotadas pelos professores é o uso de partículas de conteúdo — fotos, fragmentos de filmes e vídeos, questões, etc. Os dados da Pesquisa TIC Educação 2013 relacionados aos tipos de recursos utilizados pelos professores evidenciam essa realidade: imagens são utilizadas por 85% dos professores que responderam à pesquisa, textos por 83%, questões ou avaliações por 79%, vídeos, filmes e animações por 74%. Vídeos de aulas prontas e arquivos de apresentação, que reduzem a possibilidade de criação dos professores ao oferecer um conteúdo fechado, são menos utilizados que os conteúdos propiciadores de mais liberdade e autonomia docente. Vídeo-aulas, que trazem um encadeamento linear dos conteúdos de forma pré-definida, são utilizados por 61% dos professores, enquanto apresentações prontas, por 42%.

Quando questionados sobre as principais barreiras de usos dos recursos digitais, 69% dos professores ouvidos pela pesquisa citaram o receio sobre violação de direitos autorais. Para Santana, essa preocupação é real: a maioria dos conteúdos disponíveis na rede encontra-se protegida pela lei de direitos autorais (Lei 9.610/1996), tendo seu uso proibido sem autorização prévia. Enquanto almejamos a necessária reforma na lei, é necessário, então, investir em licenças alternativas, que possibilitam liberdades aos usuários e proteção aos autores, sem insegurança para nenhuma das partes.

Acesse o documento no Cetic.br e veja também a entrevista com Carolina Rossini sobre Recursos Educacionais Abertos e um tira-dúvida sobre direito autoral e educação digital de Carlos Affonso Souza e Sergio Branco.

REA.br vence Prêmio ARede 2014 na modalidade Especial Educação

O projeto REA.br foi o grande vencedor na modalidade na modalidade Especial Educação do Prêmio ARede2014.


A revista ARede, editada pela Bit Social, organização da sociedade civil sem fins lucrativos, idealizou essa premiação para valorizar e dar visibilidade a iniciativas de inclusão social que utilizam as Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs). O prêmio contempla, anualmente, os melhores trabalhos desenvolvidos no Brasil, por iniciativa de empresas, diretamente ou por meio de fundações e institutos por elas mantidos; por organizações da sociedade civil, e pelo setor público (nos âmbitos federal, estadual e municipal). As modalidades são Setor Público, Setor Privado, Terceiro Setor, Especial Educação e Personalidade do Ano.

Esse prêmio é o reconhecimento do trabalho de toda a comunidade de Recursos Educacionais Abertos (REA) que desde 2008 atua para fomentar política pública de REA no Brasil e também para informar e formar pessoas para essa causa. Ao longo desses anos temos 5 projetos de lei apresentados, participação em inúmeros eventos pelo país, atualmente vários trabalhos de formação organizados pelo Instituto Educadigital e reformulação constante de nosso site na internet com o intuito de ser a porta de entrada para as pessoas interessadas no universo dos REA.

Deixo uma homenagem especial e mais que merecida a Carolina Rossini que foi a fundadora desse movimento no Brasil, coordenou o projeto até 2011 e atualmente é nossa conselheira. Parabenizo também Priscila Gonsales, atual responsável pela coordenação do projeto pela sua dedicação e por todas as conquistas ao longo desses três anos.

Agradecemos a todos vocês pela participação e pelo apoio!

Acesse as fotos do evento aqui.