REA e “deep learning” em debate: encontro da Fundação Hewlett 2013

O clima ameno de primavera de San Diego/Califórnia foi escolhido para o encontro de 2013 dos projetos REA financiados pela Fundação Hewlett na primeira semana de abril. O objetivo do evento foi propiciar a troca de experiência entre os presentes e elencar quais os elementos fundamentais para a busca de uma aprendizagem aprofundada (o chamado “deep learning”) com REA, como por exemplo:

  • resolver um problema real/concreto
  • conseguir um resultado surpreendente
  • poder produzir, por a “mão na massa”
  • assumir responsabilidade e autoria
  • estabelecer relações/conexões/confiança
  • ter oportunidades para falhar/errar
  • considerar aprender também fora da sala de aula
  • tentar fazer sem medo de errar
  • compartilhar a produção escolar

A escolha do local pela Fundação Hewlett não poderia ter sido mais feliz. A High Tech High é uma escola pública de ensino médio em San Diego que faz parte de uma rede de 11 espalhadas pela Califórnia, algumas também com ensino fundamental. Além de espaços de aprendizagem (não consigo chamar de “sala de aula”) altamente inspiradores com produções dos estudantes que saltam aos olhos do visitante, ainda é reconhecida internacionalmente por sua metodologia inovadora de trabalho por projetos e formação de professores pelo Design Thinking. O Porvir já fez uma matéria sobre ela (veja aqui)  e, coincidentemente, a diretora Melissa veio ao Brasil falar no Transformar 2013 na mesma semana em que eu estava lá.

Mesmo em férias de primavera por duas semanas, alguns alunos lideraram orgulhosos um “tour” pela escola. “What is the best think of studing here?” – perguntei a cada um. As respostas chamaram muito a atenção: autonomia na condução de projetos, trabalho em equipe com divisão de responsabilidades e permissão para errar. Basta ver algumas fotos que tirei para ter uma ideia da produção fascinante que tem por ali. A sensação é de estar em uma espécie de “centro cultural de aprendizagem” que dá vontade de entrar e ficar.

Uma das dinâmicas teve como mote lembrar dos anos escolares e compartilhar algo que de fato havia aprendido, dentro ou fora da sala de aula. Era a deixa para que todos entendessem a pauta do encontro todo: REA e deep learning (aprendizagem aprofundada) – como integrar esses dois mundos? E seriam mesmo dois mundos? Quando pensamos na concepção de educação que REA traz, isto é, a de possibilitar que educadores se reconheçam como e também sejam os autores de seu próprio material pedagógico, faz todo sentido imaginar que adotar REA como política pública de formação de professores, por exemplo, pode levar a uma aprendizagem aprofundada dos próprios professores já que terão uma postura mais ativa no preparo de suas atividades, aulas e projetos. Os estudantes, por sua vez, serão beneficiados por poderem participar de propostas mais motivadoras e cheias de desafios.

Participei também de um grupo de debate sobre o uso das licenças Creative Commons. Qual a licença ideal para REA? Existe licença ideal? O momento divertido foi a analogia que o grupo fez do CC-BY-NC  com a canção “Call me maybe”, para dizer que o “não comercial” não esclarece quais usos são ou não permitidos, deixando implícito que talvez seja melhor entrar em contato com o autor. Lembrei da oficina que fizemos no Cenpec no fim de março, quando surgiu a dúvida: “usar em escola particular é ou não uso comercial?”. Talvez um típico caso de “Call me maybe”.

Tive a oportunidade de contar sobre uma situação bem atual que estamos tendo no Instituto Educadigital, na produção do livro Aprender para Contar, didático de alfabetização de EJA, Bianca Santana autora. Queremos que toda a iconografia seja aberta, isto é, CC-BY ou domínio público, já que o livro é uma encomenda da Editora Hedra que vai licenciá-lo em CC-BY-NC. Há muita imagem disponível, especialmente na Wikipedia, mas que não podemos usar por conta do “SA” (compartilhe pela mesma licença).

Um dos grupos de discussão buscou identificar quais as demandas atuais para REA, em especial nas regiões árabes, América Latina e países de Língua Portuguesa. Desenvolvimento profissional para quem está fora da escola, materiais traduzidos, materiais para pessoas com necessidades especiais, engajamento de governos na causa REA e melhoria de infra-estrutura para produção foram alguns tópicos trazidos pelos participantes.

Plataforma edX terá código aberto

A Universidade de Stanford e a plataforma edX (criada em uma parceria da Universidade Harvard e do Massachusetts Institute of Technology  – MIT), anunciaram a liberação do código da plataforma e provisão de ferramentas online de aprendizagem livres e abertas para instituições de todo o mundo.

Como parte deste anúncio, a edX irá liberar o código-fonte de sua plataforma de aprendizagem em 01/06/2013. Em apoio a esse movimento,  Stanford vai integrar os recursos existentes na Class2Go na plataforma EDX, utilizar a integração como uma plataforma interna para cursos online e à distância e trabalhar em colaboração com a edX e outras instituições para o melhoramento da plataforma.

O código aberto permitirá que qualquer instituição, empresa, grupo ou indivíduo possa usar a estrutura e oferecer seus próprios cursos pela internet.  Apesar de o código ser aberto, de acordo com o presidente do edX, Anant Agarwal, apenas a Universidade de Tecnologia Delft (Holanda), autorizou que o seu conteúdo também fosse oferecido abertamente nas plataformas.

A edX está buscando a visão de código aberto para melhorar o acesso ao ensino superior. Segundo o anúncio oficial de abertura do código, um dos principais benefícios dos MOOC’s é que eles trazem junto usuários distintos que estão dispostos a aprender colaborativamente. Os MOOC’s e as inovadoras abordagens de ensino online, usam ambientes web que suportam vídeo interativo, discussão online, a interação social, avaliação e outras funções. Plataformas de aprendizagem online e open source, irão permitir que universidades desenvolvam os seus próprios métodos de entrega, parcerias com outras universidades e instituições, coleta de dados e controle de seu material educativo.

A partir de junho, os desenvolvedores de todos os lugares do mundo poderão acessar livremente o código fonte da plataforma de aprendizagem EDX, incluindo o código do Sistema de Gestão de Aprendizagem (LMS); Studio, uma ferramenta de criação de curso; xBlock, uma interface de programação de aplicativo (API) para integração de objetos de aprendizagem. EDX irá apoiar e fomentar a comunidade de desenvolvedores que contribuirem para o melhoramento da plataforma, proporcionando um ambiente rico para a colaboração, bem como orientações técnicas e processos para facilitar as contribuições.

Em breve, o código estará disponível em: https://github.com/edX

Leia o anúncio completo da liberação do código da edX em: www.edx.org/press/stanford-to-work-with-edx

Veja também: Plataforma de cursos pela internet de Harvard e do MIT terá código aberto

A rede e a liberdade de criação

Texto muito comentado durante a semana, acredito que vale muito a pena deixar registrado aqui,  “a rede e a liberdade de criação”, escrito pelo prof. Sérgio Amadeu da Silveira, publicado na  Folha de S. Paulo em 01/04/2013.

 

Os dois filósofos suecos Alexander Bard e Jan Söderqvist já haviam detectado que em uma rede distribuída como a internet, “todo ator individual decide sobre si mesmo, mas carece da capacidade e da oportunidade para decidir sobre qualquer dos demais atores”.

Essa tese foi testada pelo poderoso governo norte-americano quando, em dezembro de 2010, agiu de modo contundente sobre os provedores para retirar o site do Wikileaks da rede. Em menos de dois dias, foram criados mais de 800 “sites espelhos” nos cinco continentes, que replicavam exatamente o conteúdo do site bloqueado.

Se a liberdade de expressão e de opinião distribuídas pelas plataformas da rede incomodam sobremaneira os setores que definem as razões de Estado como princípio superior, a liberdade de criação de novas tecnologias, aplicações ou formatos têm preocupado e colocado em risco os velhos modelos de negócios de grandes corporações erguidas no mundo industrial.

Assim, a natureza aberta da internet torna-se alvo de parte da indústria de intermediação cultural e de grandes corporações de telecomunicações.

Em 1989, Tim Berners-Lee desenvolveu o modo gráfico da internet. Até 1999, Shawn Fanning e Sean Parker não haviam criado o Napster, considerado um dos precursores das redes P2P, que mudaram o modo dos jovens acessarem arquivos digitais em todo o mundo. Foi em abril de 2001 que Bram Cohen lançou o protocolo BitTorrent; Janus Friis e Niklas Zennström desenvolveram o Skype, em 2003. Hurley, Chen e Karim criaram o YouTube em fevereiro de 2005. Jack Dorsey deu vida ao microblogging Twitter em 2006.

Nenhum desses criadores teve que pedir autorização para governos ou corporações para desenvolver e distribuir na rede suas invenções e plataformas tecnológicas.

A internet, até o momento, é uma rede aberta, não proprietária e desenvolvida colaborativamente, a partir dos esforços de empresas, universidades, técnicas e técnicos de órgãos públicos e da comunidade hacker. Para acessá-la, não precisamos recorrer a centros obrigatórios, tal como ocorria na rede de computadores francesa chamada Minitel. São os protocolos da internet que asseguram esse fantástico arranjo comunicacional.

Entretanto, quem controla a infraestrutura de conexão pode controlar o fluxo de informações. Dito de outro modo: os donos dos cabos e fibras ópticas por onde passam os fluxos de informação podem filtrar e bloquear os pacotes de dados.

Se o dono da infraestrutura de cabos e fibras ópticas não for neutro em relação aos conteúdos e aplicativos que nela trafegam, estaremos subordinando a liberdade de criação aos seus interesses, sejam econômicos ou políticos.

Na internet, não pedimos autorização para nenhuma corporação ou Estado para criarmos e lançarmos um novo aplicativo ou plataforma. A liberdade tem sido a maior força e fonte de inventividade e criatividade. Emprestando os termos do jurista Lawrence Lessig, perderemos diversidade e intensidade criativa se substituirmos a lógica da liberdade pela lógica da permissão.

A possibilidade de criar livremente um novo aplicativo, uma nova tecnologia ou um novo protocolo será gravemente afetada e comprometida com a quebra da neutralidade da rede.

Hoje, em todo o mundo, há um grande embate entre as operadoras de telecomunicação e os defensores da liberdade e diversidade culturais. O oligopólio da telecom pressiona os Estados nacionais e suas agências reguladoras para aprovarem legislações que assegurem a possibilidade deles filtrarem, bloquearem e pedagiarem o fluxo de informações no ciberespaço. Isso implicará na permissão para que se tornem “gatekeepers” da criatividade. Precisamos defender a liberdade de criação tecnológica.

SERGIO AMADEU DA SILVEIRA, doutor em ciência política, é professor da Universidade Federal do ABC e membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil

Criando uma bibliografia sobre EA/REA em português

Organizar referências acadêmicas sobre Educação Aberta e Recursos Educacionais Abertos (EA/REA)! Esse é um projeto realizado em parceria com a Athabasca U., que mantém o OER Knowledge Cloud (Nuvem de Conhecimento sobre REA) e conta com mais de 500 artigos catalogados, todos em inglês.

A meta do projeto é fazer com que a Nuvem possa se expandir, primeiro com artigos em português e depois incorporando outros idiomas, objetivando construir um panorama multinacional sobre a pesquisa desenvolvida na área.

O projeto transcorrerá em duas instâncias:

  1. A primeira, moderada, porém completamente aberta e colaborativa — utilizando o Zotero (um gerenciador de referências bibliográficas que pode ser usado online ou desconectado). Além da organização, permite uma fácil integração com editores de texto (livres ou proprietários) para gerenciar referências em textos acadêmicos. O grupo para esse tema está disponível nesse link: https://www.zotero.org/groups/edaberta. Primeiro é necessário abrir uma conta (grátis) no Zotero, e depois escolher se inscrever no grupo.
  2. De tempos em tempos, haverá uma curadoria desse material para que possa ser incluída na OER Knowledge Cloud, verificando os dados e a adequação do escopo.

De acordo com o prof. Tel Amiel (UNICAMP), até o momento levantou-se somente 28 artigos em português e ele pede o apoio de todos para contribuirem com outros artigos acadêmicos de revistas e congressos que possam compor a lista (inclusive os publicados por membros da comunidade REA).

Fonte: Educação Aberta e lista de emails da Comunidade REA Brasil

Projeto pretende mapear iniciativas REA ao redor do mundo

POERUP (Policies for OER Uptake) está realizando uma pesquisa para compreender como os governos podem estimular e adotar REA por meio de políticas públicas.

A pesquisa tem como objetivo proporcionar às autoridades de educação, comunidade científica e de gestão iniciativas REA com resultados de pesquisas confiáveis ​​ em que o feedback de todos os grupos interessados ​​pode ser usado como literatura padrão. Um objetivo específico é ajudar os leitores a cargo de iniciativas REA para encontrar maneiras de incorporar características de sucesso de outras iniciativas.

A lista do mapeamento global de iniciativas REA pode ser encontrado em http://poerup.referata.com/wiki/Countries

Saiba tudo sobre o projeto em: http://www.poerup.info

Entrevista: grupo do Pará prepara TCC sobre Recursos Educacionais Abertos

A primeira entrevista de 2013 acaba de sair!

Maria do Socorro Braga Reis, José Pereira Smith Júnior e Joneson Rosa dos Reis são professores de escolas públicas no Estado do Pará e estão escrevendo o seu Trabalho de Conclusão de Curso na área de recursos educacionais abertos. Esse contato nasceu à partir do compartilhamento e da discussão trazida pelos componentes do grupo no Facebook do REA Brasil.

O primeiro questionamento foi Objetos de Aprendizagem e REA são a mesma coisa? Essa é uma boa pergunta para brincarmos nos comentários desse post, não é mesmo?

Acesse a entrevista completa aqui.

Um post e novas ideias borbulham (mesmo que no início)

O post da Maria do Socorro trouxe outros membros que também pretendem se debruçar na questão dos REA e em breve vão compartilhar conosco as suas experiências!

A Flávia Martins, por exemplo, tem objetivo até omomento apresentar e analisar a metodologia de objetos de aprendizagem como recursos educacionais aberto em ambientes formais e informais de aprendizagem on-line (com 3 cases inicialmente). O estudo está no início ainda, em fase de pesquisa de referências.

Já a Zil Araújo quer fazer o seu TCC sobre a importância e impacto de REA e Oas na Sociedade de Aprendizagem. E por fim, a Kassandra Camago Silva, que é da área de ciência da computação,  estará mais focada no desenvolvimento de tecnologias envolvidas.

Vamos ajudá-los nessa caminhada?

Acesso Livre e Repositórios Institucionais

Interessante entrevista sobre acesso aberto publicada no Jornal da Ciência (edição de 13 de Março de 2013) com  Cristina Guimarães, pesquisadora do Icict e Helio Kuramoto, do Ibict.

Qual o impacto das medidas adotadas tanto nos EUA quanto na Europa em relação ao livre acesso às pesquisas realizadas com verba pública?

Cristina Guimarães – Especialmente nos países ocidentais, um número crescente de financiadores de pesquisa coloca como requisito da subvenção o depósito dos resultados da pesquisa em repositório de acesso aberto. Quando não mandatórios, os financiadores “encorajam fortemente” que o depósito seja feito. Alguns números dão conta desse impacto, somente no campo das ciências da saúde: o US PubMed Central (PMC), repositório mantido pela National Institutes of Health (NIH), dos EUA, disponibiliza hoje mais de 2,5 milhões de artigos em texto completo. Na Europa, o Europe PMC, lançado em novembro de 2012, conta com mais de dois milhões de artigos científicos. É importante lembrar de uma forma complementar de financiar o livre acesso, quando os financiadores disponibilizam fundos adicionais para custear a publicação do artigo em uma revista de acesso aberto.

Helio Kuramoto – Nos EUA, desde 2007, quando foi aprovada uma lei específica ao NIH – National Institutes of  Health, tornou-se obrigatório a todos os pesquisadores, financiados por aquela agência de fomento, o depósito de seus artigos publicados em revistas científicas no repositório PubMed Central, que hoje conta com cerca de 2,6 milhões de artigos depositados. Este número mostra o benefício que a referida medida trouxe não apenas aos pesquisadores americanos, mas de todo o mundo, inclusive, os profissionais, como os médicos.

Há dois anos, tive a oportunidade de comprovar isso ao fazer uma consulta com um médico urologista, em Brasília. Perguntei a ele como fazia para se manter atualizado e ele me surpreendeu, dizendo que consultava regularmente o PubMed Central. Esta foi a melhor prova dos benefícios que essa medida trouxe não apenas aos pesquisadores americanos, mas a todos os profissionais no mundo.

Em seguida, mais recentemente, no final do mês de fevereiro desse ano, o governo americano tomou a decisão, por meio de um memorandum, no qual foi estendido a todas as agências americanas de fomento, iniciativas aderentes ao Open Access. Ou seja, espera-se que em breve todas as agências americanas de fomento sigam o exemplo do NIH. E, futuramente, poderemos ter um acesso mais amplo à informação científica.

Da mesma forma, na Europa, vem se desenvolvendo projetos aderentes às iniciativas OA e, em meados do mês de fevereiro, houve uma evento em Portugal para se discutir o desenvolvimento desses projetos, o OpenAIRE e o MedOAnet, conforme se pode ver no link: http://openaccess.sdum.uminho.pt/?page_id=1791

Enfim, o impacto que esses projetos e iniciativas trarão é maior visibilidade da produção científica desenvolvida nesses países, pois, ao contrário do que ocorre com as publicações científicas onde apenas os seus assinantes têm acesso, uma comunidade maior de pessoas terá acesso aos resultados das pesquisas ocorridas nesses países.

Caso essas medidas fossem adotadas no Brasil, que benefícios trariam à ciência brasileira?

CG – O primeiro e mais importante é a visibilidade (das pesquisas, dos pesquisadores, das instituições), etapa fundamental para o círculo virtuoso da ciência e da inovação. A visibilidade e o livre acesso à produção científica nacional também devem ser pensados em seu papel fundamental para a educação científica e a educação em saúde (health literacy), subsídios importantes para a governança da ciência e o controle social.

HK – Caso essas medidas fossem adotadas no Brasil, as pesquisas brasileiras ganhariam maior visibilidade, assim como os nossos pesquisadores e as nossas instituições de ensino e pesquisa. Além disso, o Brasil certamente obteria maiores oportunidades de cooperação técnica com outros centros mais desenvolvidos.

Não apenas o País, como um todo, mas, principalmente, os pesquisadores ganhariam maiores oportunidades de interação com outros pesquisadores de outras nações e, obviamente, proporcionariam maior progresso científico ao nosso País. Mais do que isso, com certeza, toda a população brasileira poderia usufruir os resultados dessas pesquisas e ter uma saúde melhor, e melhores condições de vida.

Você acredita que há uma valorização dos pesquisadores e cientistas brasileiros em relação à publicação de seus estudos junto às editoras científicas em detrimento do uso dos repositórios institucionais?

CG – A resposta a essa pergunta não passa exclusivamente pela análise do comportamento ou das preferências do pesquisador. Inúmeros elementos se interpõem que vão desde as características da área do conhecimento (maturidade, dinâmica de crescimento, caráter nacional ou internacional, dentre outros) até a política de avaliação da ciência em prática no país. Para além dessas questões políticas e conceituais, os repositórios devem ser pensados como uma estratégia adicional de publicação, e não competitiva aos periódicos científicos.

HK – O fato de os pesquisadores brasileiros publicarem em uma revista científica comercial, obviamente, provoca uma valorização desses pesquisadores junto àquelas revistas. Mas, o fato do pesquisador brasileiro depositar os seus artigos em um repositório digital não o denigre ou o desvaloriza junto aos editores científicos. Aliás, o fato de o pesquisador brasileiro não depositar a sua produção científica em nenhum repositório de acesso livre, só prejudica a ele próprio, pois ele deixa de dar maior visibilidade à sua produção científica e, com isto, certamente, os próprios editores científicos também deixam de ganhar, pois, da mesma forma, as suas revistas deixam de ter a visibilidade que teria se um artigo de seu periódico estivesse presente em um repositório digital.

O que falta, no Brasil, para que o livre acesso seja implantado em todos os institutos de pesquisa e demais órgãos que realizam pesquisas científicas?

CG – Há que se ter uma ampla discussão sobre o tema, envolver pesquisadores, gestores, políticos e a sociedade civil. Nos países onde a política se estabeleceu, ela o fez como resultado de muita discussão, de muita pressão pública. Se a função social da ciência prevalecer, ou seja, se o papel da ciência é estar a serviço da sociedade, o livre acesso à literatura se impõe. Cabe às políticas desenhar o melhor caminho para que isso seja alcançado. A Fiocruz já assumiu esse compromisso e colocou em curso a elaboração a Política de Acesso Livre a produção técnico-científica da instituição, por meio do repositório institucional ARCA.

HK – Desde 2007, a Câmara dos Deputados vinha discutindo o Projeto de Lei (PL) 1120/2007, o qual propunha a obrigatoriedade de todas as universidades e centros de pesquisa ter os seus repositórios institucionais, e que tornasse obrigatório aos seus pesquisadores o depósito de seus artigos publicados em revistas científicas. No entanto, este PL, após praticamente quatro anos de discussão, foi arquivado em janeiro de 2011, devido à mudança na legislatura.

Em seguida, articulamos com o atual senador da República, Rodrigo Rollemberg, o mesmo que submeteu o PL 1120/2007, a submissão de um projeto similar no Senado Federal. Então, desde 2011, o PLS 387/2011 está em discussão. Tal projeto continua praticamente parado na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=101006). O relator é o senador Cristovam Buarque.

Evidentemente, não haveria necessidade desse projeto se o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o MEC – Ministério da Educação se organizassem e publicassem medidas, tornando obrigatório a todas as universidades e institutos de pesquisa públicos a implantação dos seus respectivos repositórios, e obrigassem os pesquisadores dessas organizações a depositarem a sua produção científica. No entanto, isso é uma coisa difícil de se alcançar, pois hoje a Capes tem o seu portal de periódicos e, portanto, a implantação dos repositórios seria uma medida que viria em direção oposta ao Portal da Capes. Existem aí interesses que não me cabe discutir. Mas, certamente, a implantação das medidas necessárias para o estabelecimento de repositórios digitais seria muito mais barato que a manutenção do referido portal, que custa aos cofres públicos mais de US$ 80 milhões. O custo de implantação de repositórios digitais é muito mais barato do que esse montante gasto pela Capes. Trata-se de matéria de interesse público.

Créditos:
Artigo de Graça Portela – Comunicação do ICICT/Fiocruz, publicado em Jornal da Ciência: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=86177
 

Alunos do Ensino Fundamental II ajudam a melhorar e editar a Wikipédia

Alunos do 9º ano do ensino fundamental do colégio I.L. Peretz, na zona sul de São Paulo, têm trabalhado para melhorar a qualidade e criar verbetes relacionados a obras literárias na Wikipédia, enciclopédia digital que tem 25 milhões de artigos publicados em 285 idiomas, sendo 772 mil deles em português.

A iniciativa partiu do professor Jorge Makssoudian, que procurou no Brasil os representantes da Wikimedia Foundation, responsável pelo site colaborativo, para oferecer a parceria.

O projeto é semelhante ao Wikipédia na Universidade, lançado pela fundação em 2011 e que tem a participação de instituições como USP, UFRJ e FGV, entre outras.

“Eu pensei em um projeto que unisse tecnologia com algo que os alunos costumam usar no dia a dia, mas que também servisse como ferramenta para trabalharmos questões gramaticais”, explica.

O primeiro é sobre “A Volta ao Mundo em 80 dias”, do escritor francês Júlio Verne.

A ideia, segundo Makssoudian, é tornar a enciclopédia digital um ambiente mais confiável e com textos mais bem escritos. A filosofia é: em vez de reclamar, faça algo para melhorar o que lê.

Continue lendo a matéria na Folha de S. Paulo.

Leia também: Aprenda a editar artigos e a criar novas páginas na Wikipédia

Relatores são contrários ao veto total de Alckmin ao PL REA Estadual (989/2011)

Após veto total do Governador Geraldo Alckmin, o PL 989/2011 retornou para reexame da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, passando novamente nas Comissões de Constituição Justiça e Redação (CCJR),  de Educação e Cultura (CEC) e de Finanças Orçamento e Planejamento (CFOP).

Os relatores especiais Alencar Santana Braga, pela Comissão de Constituição Justiça e Redação e José Zico Prado, pela Comissão de Educação e Cultura, publicaram recentemente parecer favorável ao projeto de lei e contrário ao veto total do Governador Alckmin.

Conforme parecer 324/2013, do relator especial Alencar Santana Braga pela Comissão de Constituição Justiça e Redação:

“…não foi visualizado qualquer óbice de natureza constitucional ou legal à aprovação do projeto, tendo em vista que a matéria é de natureza legislativa e, quanto ao poder de iniciativa, de competência concorrente, nos termos dos artigos 19 e 24, caput, da Constituição do Estado, combinados com os artigos 145, §1º, e 146, III, ambos do Regimento Interno Consolidado.

O inciso V do artigo 237 da Constituição do Estado garante aos indivíduos o direito de ter pleno acesso ao conhecimento científico e tecnológico e cabe ao Poder Público formular políticas públicas para efetivar tal direito.

Este P.L tem por finalidade cumprir uma prerrogativa constitucional do Estado e está em plena concordância com os preceitos constitucionais.

Em face do exposto, nos aspectos que nos compete examinar, manifestamo-nos favoravelmente ao Projeto de Lei n.º 989, de 2011, e, por consequência, contrariamente ao veto consignado pelo Senhor Governador.”

O parecer 325/2013, do relator especial José Zico Prado, pela Comissão de Educação e Cultura, também é favorável ao projeto e contra o veto:

“… Deputado Simão Pedro avocou o Direito Fundamental à educação (Art. 6º. CF.) e a igualdade ( ART. 5º. CF.) ao apresentar essa proposta de lei.

A disponibilização de recursos educacionais comprados ou desenvolvidos pela Administração Direta e Indireta estadual, em sitio eletrônico das instituições afins, trata-se de otimização de recursos públicos e garantia de inclusão social. Ademais atende a preceito constitucional que garante aos indivíduos o direito de ter pleno acesso ao conhecimento cientifico e tecnológico.

Face ao exposto, manifestamos-nos favoravelmente ao Projeto de Lei n° 989, de 2011, e, consequentemente, contrários ao veto total oposto pelo Excelentíssimo Senhor Governador.”

O PL REA foi incluído na ordem do dia de 19/03, durante a 28ª sessão ordinária. O próximo passo é a votação em plenário em alguma das sessões e não existe nenhum prazo ou previsão para que seja realizada.

Acesse todo o trâmite desse projeto de lei e tenha acesso a todos os pareceres aqui.

Leia também:

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