Dez anos da Declaração de Educação Aberta da Cidade do Cabo

Por Nicole Allen • Diretora de Educação Aberta do SPARC Conselheira consultiva do Instituto Educadigital

O dia 22 de janeiro de 2018 marca os 10 anos da publicação da Declaração de Educação Aberta da Cidade do Cabo, um apelo global à ação que ajudou a inspirar milhares de defensores da Educação Aberta e dos Recursos Educacionais Abertos (REA) em todo o mundo. Começando com as palavras: “Estamos à beira de uma revolução global no ensino e na aprendizagem”, a declaração prevê um mundo onde todos, em todos os lugares, possam acessar e contribuir para a soma do conhecimento humano, onde os professores e alunos colaboram juntos e onde as oportunidades educacionais se ampliam.

Ao longo da última década, essa visão se espalhou de um pequeno grupo de inovadores para um movimento mundial. A Declaração da Cidade do Cabo desempenhou um papel central para ajudar a inspirar e reunir os defensores da Educação Aberta, reunindo assinaturas de mais de 2.500 indivíduos e quase 300 organizações ao redor do mundo. Para ajudar a traçar os futuros caminhos para o movimento, elaboramos a publicação: Décimo Aniversário da Declaração da Cidade do Cabo: Dez Direções para Fortalecer a Educação Aberta, um material colaborativo lançado em setembro de 2017, no Congresso Mundial de REA da UNESCO, em Liubliana (Eslovênia).

Em 22 de janeiro de 2008, eu li a Declaração da Cidade do Cabo pela primeira vez – na tela do meu impressionante celular iPhone de primeira edição. Eu era uma jovem advogada ativista, tinha um ano e meio de formada e trabalhava com uma organização estudantil para mobilizar apoio aos livros didáticos abertos. Naquela época, as únicas professoras conscientes sobre REA eram as que conversávamos e a quantidade de livros abertos disponíveis poderia ser contada nos dedos. Mas eu estava em uma missão: não podia aceitar que a educação do século XXI dependesse de livros didáticos absurdamente caros quando temos uma grande quantidade de informações on-line de alta qualidade ao nosso alcance. Eu acreditava que nossos sistemas educacionais deveriam começar a aproveitar esse potencial.

O SPARC (sigla em inglês para Coalizão para Editores e Recursos Acadêmicos) e eu ainda não havíamos nos encontrado, embora, se eu tivesse examinado a lista dos signatários da Declaração da Cidade do Cabo, eu teria visto que o SPARC e o SPARC Europe, estavam entre as primeiras organizações a assinar. As primeiras abordagens em prol da Educação Aberta começaram a se aprofundar no SPARC, e um ano depois, fui convidada a falar no seminário anual SPARC-ACRL Fórum no ALA Midwinter 2009, em Denver. O tema foi O Potencial Transformador dos Recursos Educacionais Abertos, que teve também como palestrantes dois signatários originais da Declaração da Cidade do Cabo, David Wiley e Rich Baraniuk.

Foi nessa sala em Denver, que os esboços das primeiras grandes iniciativas de REA lideradas por associações de bibliotecas começaram surgir. Ao mesmo tempo em que a comunidade de bibliotecas acadêmicas estava ciente do aumento do custo dos livros didáticos, pouco viam com clareza um papel potencial para as bibliotecas acadêmicas como parte da solução para o problema, apesar de as bibliotecas já estarem liderando o caminho no Acesso Aberto. O evento gerou um artigo importante sobre o tema e também definiu o SPARC como uma organização líder nessa temática.

Como uma especialista em políticas, eu não esperava que pudesse trabalhar tanto tempo diretamente com bibliotecários. No entanto, quando recebi o convite de Heather Joseph, em 2012, para me juntar ao SPARC, tornou-se imediatamente claro que trabalhar com bibliotecários era exatamente o próximo passo para minha carreira como defensora da Educação Aberta. Após quase sete anos de organização de campanhas com estudantes, acreditei profundamente na importância da voz do aluno, mas também reconheci que os estudantes não podem ir à luta sozinhos. Havia a necessidade de outros aliados, que pudessem ajudar a aumentar a conscientização, era preciso trabalhar com professores para superar barreiras e atuar como um centro de especialização de produção e oferta de recursos e ainda para incentivar outras partes interessadas em participar do processo. Em outras palavras: bibliotecários.

O programa de Educação Aberta da SPARC foi lançado em 2013. Hoje, as bibliotecas acadêmicas são cada vez mais vistas como os motores e agitadores de REA, como é destacado em artigos de notícias recentes em EdSurge e Inside Higher Ed. O que começou como alguns bibliotecários individuais inovando e aproveitando os sucessos uns dos outros tornou-se uma norma em toda a América do Norte: onde há atividades do campus sobre REA, as bibliotecas tendem a estar no centro delas. E, o mais importante, REA está tendo impacto nos estudantes, como mostrou o relatório anual do Connect OER da SPARC, que descobriu que as bibliotecas dos membros do SPARC eram, de longe, os participantes mais envolvidos no campus, e cada campus participante havia propiciado que os estudantes economizassem,  em média, 250 mil de dólares só no ano lectivo 2016-2017.

Refletindo sobre minha trajetória na última década, constantemente me espanto com o avanço que conseguimos. Eu quase tive que beliscar a mim mesma quando a pesquisa recentemente publicada da Babson descobriu que 9% das faculdades dos EUA adotara o REA e 30% estavam cientes de REA. Enquanto alguns no exterior observam esses números como um sinal de que REA ainda tem que decolar em nosso país, eu vejo isso como um endossamento ressonante e inquestionável de que a visão que todos tivemos ao assinar a Declaração há 10 anos foi correta. E este é apenas o começo. O que aconteceu na última década é o resultado de um trabalho incansável e dedicado de milhares de defensores da Educação Aberta em todo o mundo, e posso dizer uma coisa com certeza: está funcionando.

SPARC é uma aliança internacional de organizações de estudantes de graduação e pós-graduação que representa quase 7 milhões de estudantes em mais de 100 países ao redor do mundo. Defende e procura incentivar o compartilhamento aberto do resultado de pesquisas e materiais educacionais. Busca também democratizar o acesso ao conhecimento e acelerar o processo de educação e descobertas científicas. Organiza anualmente o OpenCon. Veja a lista de membros do SPARC.

(tradução livre e adaptação: Priscila Gonsales) 

Saiba quais são as competências REA para professores

OIF, UNESCO e instituições parceiras lançam documento “framework” com as competências em REA desejáveis para profissionais da educação


Dentre os lançamentos mais interessantes no Congresso está o documento “framework” (quadro) sobre as competências REA desejáveis para professores. Publicado pela Organização Internacional da Francofonia (OIF) em parceria com a UNESCO, a Alecso, o Open Education Consortium, a Universidade Virtual de Túnis e a Universidade Virtual Africana, o material  é dirigido à comunidade educacional mundial e visa contribuir para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem através do desenvolvimento e uso qualificado de Recursos Educacionais Abertos (REA).

O quadro de competências está disponível em francês, inglês, árabe, português e vietnamita sob licença CC BY 4.0 para permitir a sua divulgação e a sua maior apropriação possível.  O material vem ao encontro das recomendações do Liubliana Action Plan, assim como se alinha ao curso REA que vem sendo desenvolvido pela Iniciativa Educação Aberta para as universidades do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Ele integra as dimensões pedagógicas e tecnológicas e aborda cinco competências fundamentais (familiarização, pesquisa, reutilização, criação e compartilhamento de REA) que cobrem o leque de possibilidades oferecidas por este tipo de recursos.O material (em Português de Portugal) pode ser acessado aqui, notem que eles usam a sigla REL (recursos educacionais livres) em vez de REA.

Delegação brasileira: palestra e lançamento de livro

Guia Como Implementar uma Política de Educação Aberta e de REA foi lançado durante 2º Congresso Mundial de REA; publicação cumpre as recomendações do Plano de Ação de Liubliana


A Delegação Brasileira presente no Congresso contou com a presença inédita de duas gestoras do Ministério da Educação (MEC), Renilda Peres de Lima, diretora de Apoio às Redes de Educação Básica, e Marlucia Delfino Amaral, coordenadora-geral de Tecnologias e Inovação na Educação Básica. Também como representante de governo, estava Aureliano Vogado Junior, coordenador-geral da Parceria Governo Aberto (OGP-Brasil) do Ministério da Transparência, responsável pelo acompanhamento do Compromisso #6 sobre Recursos Educacionais Digitais.



Como setor acadêmico, Tel Amiel, coordenador da Cátedra UNESCO de Educação Aberta. Como sociedade civil, Priscila Gonsales, diretora do Instituto Educadigital, e Daniela Costa, analista de informações do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).

A Delegação Brasileira foi recebida pela equipe da Embaixada do Brasil na Eslovênia e pelo embaixador Renato Mosca.

Saiba como foi a participação da Delegação Brasileira no Congresso:


Satellite Event: Reflexão sobre os 10 anos da Declaração de Educação Aberta da Cidade do Cabo

Há dez anos, um grupo de líderes educacionais reuniu-se na Cidade do Cabo para elaborar o que se tornou a Declaração da Cidade do Cabo, articulando uma visão para uma revolução global na educação. Em 2017, denominado #Yearofopen, o grupo “CPT + 10” analisou o quão longe chegou a Educação Aberta e identificou 10 temas-chave para o movimento priorizar na próxima década e organizou uma publicação (ainda somente em inglês) foi lançada no evento: http://www.capetowndeclaration.org/cpt10/  Priscila Gonsales foi co-organizadora do painel e apresentou a Iniciativa Educação Aberta



Satellite Event: REA em países que não falam a língua inglesa

Troca de experiência e ideias sobre implementação de políticas de Educação Aberta e REA em diferentes países. A diretora do MEC, Renilda Lima, e o coordenador-geral do OGP-Brasil, Aureliano Vogado Junior, apresentaram o Compromisso #6 sobre Recursos Educacionais Abertos e o desenvolvimento de uma plataforma aberta e livre que vai reunir recursos do MEC e de parceiros e também o edital 2019 do Plano Nacional de Livro Didático que pede licença aberta para materiais digitais de orientação ao professor.

Satellite Event: REA e a importância de educadores abertos

A partir da plataforma Open Educators Factory, uma ferramenta na web onde os educadores universitários preenchem um breve questionário para saber qual o nível real de abertura em seu trabalho diário, o painel organizou um debate sobre estruturas de Educação Aberta (design aberto, conteúdos abertos, ensino aberto e avaliação aberta) desejadas e quais as orientações que melhoram a capacidade de abertura do professor para participar de processos colaborativos. Tel Amiel, coordenador da Cátedra UNESCO de Educação Aberta foi um dos debatedores.

Lançamento do livro Como Implementar uma Política de Educação Aberta e REA

A publicação, de autoria do Instituto Educadigital e com apoio financeiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, teve lançamento simbólico no Congresso pois concretiza várias das recomendações pontuadas no Liubliana Action Plan, como por exemplo, orientar gestores públicos e organizacionais a implementar uma política de educação aberta, considerando aspectos pedagógicos, técnicos e jurídicos.

No Brasil, estão sendo programados uma série de lançamentos distribuídos em eventos da área de educação.

Seminário Internacional REA em Brasília na íntegra

O Seminário Internacional REA foi um sucesso de público e de interação online. Quem não pode acompanhar ou deseja rever alguma parte do evento, disponibilizamos uma playlist da gravação realizada pela equipe da Deputada Jandira Feghali.

No término do evento convidamos todos a contribuir para uma carta direcionada ao Ministro da Educação, e também, aos presidentes da Comissão de Cultura e de Educação.

E por último, estamos mapeando tudo o que saiu na mídia sobre o evento, se você quiser colaborar pode nos enviar o link que encontrar pelos comentários ou pelas nossas redes sociais. Até o momento temos:

EBC

EBC

UOL

ANEC

Correio do Brasil

Olhar Direto

Câmara dos Deputados

O Advocacy e a Educação Aberta

Por Priscila Gonsales e Débora Sebriam • Publicado em ARede.educa

Você pode ainda não ter ouvido falar nessa expressão de origem inglesa “advocacy” (lê-se advócacy), mas certamente já acompanhou ou participou de alguma atividade provocada por ela. Sem tradução direta para o português, advocacy significa criar e realizar ações ou iniciativas para defender uma causa de interesse público junto a determinados setores da sociedade civil e governantes tomadores de decisão de políticas públicas. Um trabalho de advocacy pode, por exemplo, influenciar a elaboração de projetos de lei que vão trazer benefícios para a população.

Alguns exemplos bem atuais:

Movimento Passe Livre, que luta por um transporte público gratuito para toda a população
Marco Civil da Internet, lei sobre direitos e deveres de usuários da internet, concebida com participação popular e aprovada em junho de 2014, que agora deve ser regulamentada
Combate ao trabalho infantil, para garantir o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
Defesa da demarcação de terras indígenas, pelo cumprimento do direito indígena à terra

Educação aberta e recursos educacionais abertos (REA) são também uma causa que vem sendo defendida por muitas pessoas em todo o mundo, por meio de um trabalho de advocacy. O objetivo é lutar pelo direito ao livre acesso de toda a sociedade aos materiais e recursos educativos comprados e/ou produzidos com dinheiro público. Em novembro de 2014, na capital estadunidense de Washington, durante a OpenEd – o maior congresso mundial de educação aberta – o Instituto Educadigital e outras organizações de vários países participaram de uma atividade de advocacy de REA diretamente com políticos e assessores técnicos na Casa Branca. O objetivo era destacar os benefícios da atual política pública do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em relação a REA, para que seja mantida e ampliada aos demais níveis de ensino. Além disso, o grupo ressaltou a importância de essa experiência ser compartilhada com governos de outros países por meio de congressos e seminários.

A cada ano, uma quantidade imensa de dinheiro público (da ordem de milhões) é utilizada pelos governos de todo o mundo na compra de materiais didáticos impressos e digitais que não são REA e, portanto, são de acesso restrito, inibindo as possibilidades de reprodução, criação e adaptação de conteúdos por educadores e estudantes. Em 2012, a Unesco realizou em Paris (França) o Congresso Mundial de REA, convidando lideranças públicas governamentais do mundo todo a determinar que recursos educacionais financiados com recursos públicos devem adotar o modelo REA.

Por definição oficial da Unesco/Commonwealth, REA são materiais de ensino, aprendizado e pesquisa, fixados em qualquer suporte ou mídia, preferencialmente em plataformas ou formatos livres (software livre) que estejam sob domínio público ou licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros. Recursos Educacionais Abertos podem incluir cursos completos, partes de cursos, módulos, livros didáticos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software, e qualquer outra ferramenta, material ou técnica que possa apoiar o acesso ao conhecimento. Tal definição data de 2011 e foi redigida com ajuda da Comunidade Recursos Educacionais Abertos (REA) do Brasil.

Atuando junto à Comunidade REA desde 2008, o projeto REA.br, conduzido atualmente pelo Instituto Educadigital com apoio financeiro da Open Society Foundations, vem trabalhando para transformar a política pública de acesso a recursos educacionais financiados com orçamento público. Alguns resultados já podem ser observados nos últimos três anos, tanto em nível federal como estadual e municipal. Um deles é o Plano Nacional de Educação (PNE), que contempla o incentivo a REA nas metas 5 e 7, que focam respectivamente na alfabetização de todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental e na melhoria da qualidade da educação básica por meio do aumento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Ainda no âmbito federal, destaca-se o Projeto de Lei 1513/2011, que visa garantir que as compras públicas ou contratação de serviços e materiais educacionais sejam regidas por meio de licenças livres, permitindo a difusão e a ampliação do acesso a esses bens por toda a sociedade.

Na cidade de São Paulo, integrantes da comunidade REA ajudaram a criar uma política pública de REA. Em 2011, o então secretário de educação da capital, Alexandre Schneider, convencido da importância do tema, atuou para que o prefeito promulgasse o Decreto 52.681, que dispõe sobre o licenciamento obrigatório das obras intelectuais produzidas ou subsidiadas com objetivos educacionais, pedagógicos e afins, no âmbito da rede pública municipal de ensino. Hoje, quem entra no site da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo já localiza a licença definida para uso dos materiais disponíveis.

Outra frente de ação do projeto REA.br, que foi vencedor do Prêmio ARede 2014  (categoria especial educação), é formação de educadores e articulação de redes sociais para expandir o debate em torno de REA. O grupo REA no Facebook, por exemplo, já tem mais de 10.500 participantes de várias regiões do país (dados de fevereiro de 2015) e não para de crescer, novas solicitações de participação chegam diariamente.

Para saber mais sobre iniciativas brasileiras e internacionais sobre REA, vale acompanhar os eventos que ocorreram durante a Open Education Week, de 9 a 13 de março. O Instituto Educadigital organizou quatro hangouts em português sobre REA e as gravações estão disponíveis aqui: http://www.bit.ly/openeducationweek

MOOC, REA, o gratuito e o aberto: em que pé (não) estamos?

*Atualizado em 13/10 com as sugestões do Ranieri

A notícia de mais um MOOC (cursos on-line gratuitos e massivos, em livre tradução) em português pipocou nos últimos dias. O App Inventor visa dar uma visão geral dos fundamentos do desenvolvimento de aplicativos para dispositivos móveis, incluindo uma análise do mercado para descobrir seus modelos de negócio, os pontos críticos e melhorias possíveis. É um curso desenvolvido em colaboração entre a Fundação CSEV, Telefonica, UNED e MIT e será ministrado pela plataforma UnX, uma plataforma latino-americana de MOOCs especializada em empreendedorismo.

Em junho, a USP (pública) em parceria com o Portal Veduca (privado) anunciaram o primeiro MOOC da América Latina (aqui e aqui). O curso oferece duas disciplinas do ciclo básico da engenharia — Probabilidade e Estatística e Física Mecânica Básica. O conteúdo é o mesmo que se espera encontrar nas cadeiras análogas da universidade e serão ministrados por professores da instituição.

A barreira do idioma certamente é uma das questões que separa os brasileiros desse movimento mundial que visa tornar o conhecimento acessível a um número cada vez maior de pessoas, portanto, ter conteúdo em português ou ao menos traduzido é positivo. Entretanto, é importante fazermos algumas considerações e termos olhar atento para não confundir gratuito com aberto e público com privado.

A maioria dos MOOCs são cursos gratuitos, normalmente ministrados em plataformas proprietárias e os conteúdos são copyright. Por exemplo, para ter acesso ao App Inventor, você PRECISA ter uma conta Google. Quem não deseja ter uma conta Google fica impossibilitado de acessar o curso aberto, ops, gratuito. Percebem?

O movimento REA apoia que o conhecimento (principalmente em português) esteja de fato acessível, que atinja verdadeiramente cada cidadão brasileiro e que seja possível ser protagonista frente a isso e não somente um mero um consumidor de informação. Se considerarmos as nossas instituições públicas e as suas iniciativas de ensino online massivo ou não, com certificação ou não, é necessário começar a debater essas questões, o que perdem (ou como bem pontuou o Ranieri, o que ganham?) em oferecer cursos com licenças abertas e em plataformas abertas?

Estamos na onda dos massivos, faz pouco tempo alguém anunciou o “revolucionário” SPOC (Small Private Online Courses) e sem entrar na discussão do contexto de todos esses nomes bonitos que inventam pra coisas que já existem significam pra EAD, acredito que seria bom jogar na roda o debate sobre o aberto e fechado, sobre o público e o privado. A onda do REA ou da liberdade ainda é muito discreta nesse cenário.

How Uruguay Can Inspire Other Countries

Versão em português

With a clear goal of reducing the population’s digital inequality, Uruguay was the first country in Latin America to deliver portable computers to each of its 300 thousand students in Middle and High School in the territory’s 2,300 public schools. The initiative, called Plano Ceibal, was born in 2007, inspired by MIT researcher Nicholas Negroponte’s NGO One Laptop per Child. Every school has internet connection, machines are replaced every four years, and the country has been raising the amount of community centers for internet access or open Wi-Fi.

Before Ceibal, only 5% of low income families had access to computer and internet. Six years later, this index has gone up to 80%, practically the same of wealthier families. A study from the United Nations puts the country in first place in the digital inclusion and government transparency ranking. It also has the best performance out of all Latin American countries as far as information and communication technology, according to the ICT Development Index. Uruguay offers highest wideband velocity for lower rates.

Between October 17 and 19, 2013, the Uruguayan Ministry of Education promoted in Montevideo the second edition of Expo Aprende Ceibal, a meeting with the goal of sharing education experiences and debating the main challenges of working with digital technology. Invited as a specialist in education and digital culture, I was well familiarized with the initiative, but was nevertheless surprised by the quality participation of teachers and students, who had come not only to hear, but, especially, to present and discuss their practices.

In the beautiful Sodre auditorum’s central patio, hundreds of posters showing the experience of their respective authors—teachers as well as students—brought life to a space which, in educational congresses, is traditionally occupied by big technology and publishing companies booths selling their products.

During his speech at the end of the event’s first day, Miguel Brecher, Ceibal’s president, was brief and concise: “Technology has changed our lives greatly, but it hasn’t changed education. Technology got to education in compliance with what technology sellers wanted, not what we, educators, wanted.” He also said: “The challenge, not only for Uruguay, but for every country in the world is to adapt technology to education—and education isn’t only absorbing content, but educating for life, sharing our knowledge with the whole community.”

The pedagogical idea of technology use behind Ceibal is bold, and completely distant from traditional view. It is not about substituting analogic material with digital devices in order to favor the transmission of curricular content and, therefore, rise in the official educational exams ranking. The goal is introducing digital culture into the educational environment, thus promoting creativity, autonomy, and authorship for those involved, as well as stimulating a motivating and permanent learning process.

“By creating a game on Scratch and unveiling all the codes in that programing language, students are working on calculus. When launching the game in the school blog, they had to write the tutorial in a clear, understandable way, therefore learning about proper verbal conjugation,” said a proud basic school teacher about her project of creating games with the students. The results of this process, though, are not showing on official evaluations of the country’s education, which continually registers stagnation in the learning of reading and math.

“When we created Ceibal, we weren’t expecting improvements in math and native language. We know that’s the consequence of medium- and long-term work. What we did was create a project for a country focused on social inclusion through education,” highlighted Miguel Brechner in São Paulo, during an event organized by Instituto Educadigital and Comitê Gestor da Internet. Brecher took the time during that occasion to announce the news they are implementing at Ceibal: videoconferences to enhance the reach of foreign language teaching, attended by 1,000 groups from 196 educational centers in 2013 alone, as well as an adaptable platform for math which, in five months, has had 19,000 users and 1 million problems solved.

In the following items I highlight some other aspects of this Uruguayan educational ecosystem called Plano Ceibal which can serve as inspiration for public policies and other educational initiatives in various countries:

Independence and Administrative Autonomy

Plano Ceibal is an organ independent from the Ministry of Education, created by presidential decree in 2007. Its governance is made up of a team of executive management and a consulting commission with representatives from public organs such as Education Councils. All actions are financed with public resources, but the management team has complete autonomy in hiring staff, suppliers, aides, buying equipment and educational material (including copyrights), among other actions. The educational program’s constancy, since it does not depend on presidential mandates, is one of its high points. A national research in 2010 showed that 94% of the population favored the initiative.

Valuing Teacher’s and Student’s Authorship

Students and teachers are always considered protagonists in teaching and learning processes. There is a basic curriculum, but educational materials are not inspected by the government, and pedagogic strategy and methodology are left up to the teachers, who are constantly stimulated to create and openly share educational resources and projects online. A video explains how to create Open Educational Resources. On their end, students are greatly encouraged to learn how to program, especially using Scratch, a platform created at MIT which allows for the creation of games, animation, and interactive stories. With this tool, curricular contents are dealt with transversally, according to a project’s methodology. Students also participate in Design for Change, using Design Thinking to solve real problems in the school space, such as improving the service at the cafeteria, fighting bullying, and so on.

Motivation to Follow a Teaching Career and Systematizing Experiences

Martín Rebour, Ceibal’s coordinator for the formation of educators, says that every year 10 thousand educators take part in the program’s educational actions, through on-site or online courses and workshops. In order to support the educational use of the “ceibalitas,” an affectionate nickname for the computers, inside the schools, specific courses are organized by the Education Boards: Maestro de Apoio Ceibal (MAC), Maestro Dinamizador and Maestro Conteudista. Various online courses are offered throughout the year in the CREA platform.

Participation in the courses is voluntary and not remunerated. Wage gains come later, as the teachers take on new offices. Recent news have showed that the increase in teachers’ wages has been a trend with this public policy.

Pedagogic experiences are constantly systematized and shared—such as with SembrandoLivro Azul and other publications. The initial formation of teachers is also part of the program. Some courses stimulate the creation of learning objects by university students, for use at the Ceibal schools.

Family and Community Involvement

By taking the “ceibalitas” home, kids and teenagers stimulate their families’ involvement in their relation with the school, since they are the ones responsible for taking care of the equipment. A study by the Autonomous University of Mexico and the Catholic University of Uruguay showed families have confidence and are certain of the computer’s importance in bettering their children’s education, especially by opening up future work opportunities. It also showed, though, that, in the beginning, they were suspicious of the frequent use of games, reproducing the traditional view that games are not suitable for school education. However, over time and by interacting with their children and the “ceibalita” at home, they came to realize the value of games in learning. Not only that, they also use the computer for family activities, such as taking pictures, finding information about any theme or talking to a distant relative.

Besides families, a vast group of volunteers was assembled to support Ceibal’s actions and activities.

Exchange with Other Countries

Brazil, Costa Rica, and Argentina are amongst the countries with which Uruguayan schools exchange projects. Communication via internet and even on-site visits are happening, such as at Escola Estadual Osvaldo Aranha, a state school in Ijuí, Rio Grande do Sul state (Brazil), and Escola República del Paraguay no 94, in Rivera, which are exchanging information about Brazilian poet Mario Quintana and Uruguayan painter Joaquín Torres García. The Ijuí school is included in Província de São Pedro, a recent project from the State Secretary of Education which equipped with laptops the Brazilian schools in border towns, while simultaneously educating teachers to “not let Brazilian students in the area in a disadvantage toward their Uruguayan colleagues,” explains Maria Lúcia Pinto, the project’s pedagogic coordinator at the Education Secretary, who also participated in Expo Aprende Ceibal.

BY PRISCILA GONSALES

Fellow Ashoka, Master in Education, Family and Technology from the University of Salamanca (Spain), journalist specializing in educommunication, cofounder of Instituto Educadigital. Priscila has been developing projects and researches regarding education in digital culture since 2001, and she also facilitates educational processes involving Open Education Resources and Design Thinking.

Argentina aprova lei de acesso aberto à informação científica

O Senado Argentino aprovou por unanimidade uma norma que obriga as instituições científicas que recebem financiamento público a facilitar o acesso aberto às pesquisas científicas com a criação de repositórios institucionais de acesso aberto.

Deverão ser disponibilizados trabalhos técnico-científicos, teses acadêmicas, artigos, entre outros, que são o resultado das atividades de pesquisas financiadas com dinheiro público, através de seus pesquisadores, tecnólogos, professores, doutores, mestres e estudantes. A lei também prevê a publicação obrigatória dos dados preliminares da pesquisa após cinco anos de seu início que poderão ser usados ​​por outros pesquisadores.

De acordo com o Secretário de Articulação Técnico-Científica do Ministério, Alejandro Ceccatto, “a sanção da lei é uma resposta à posição de monopólio das grandes editoras internacionais que concentram a publicação de pesquisas científicas” e acrescentou que “o objetivo é que a produção científica financiada pela sociedade seja acessível”. Para ele, é inaceitável que o governo financie a pesquisa nacional e depois a sociedade não possa acessar esse conhecimento.

A lei garante o modelo de acesso aberto à produção científica e tecnológica e permite que os usuários possam de forma gratuita, ler, baixar, copiar, distribuir, imprimir, buscar os links de textos completos dos artigos científicos e usá-los com propósitos legítimos de investigação científica, na educação ou na gestão de políticas públicas, sem barreiras econômicas, legais ou técnicas.

Rede de Repositórios Institucionais

Autoridades científicas concordaram com a criação de “LaReferencia”, um projeto para desenvolver uma rede de repositórios institucionais de publicações científicas. Ele é projetado para armazenar, compartilhar e dar visibilidade à produção científica da América Latina.

O projeto prevê a criação e funcionamento de repositórios de publicações científicas interoperáveis ​entre Argentina, Brasil, Colômbia, México, Chile, Equador, Peru, Venezuela e El Salvador. Os membros se comprometem a:

  • que os pesquisadores e beneficiários de fundos públicos publiquem os resultados da investigação de acordo com os princípios de acesso público
  • desenvolver ferramentas e mecanismos para avaliar as contribuições no campo do acesso aberto
  • criar instrumentos para medir a produção científica dos repositórios na região

Desta forma, apoiarão e facilitarão o acesso equitativo à produção científica da América Latina como um bem público regional, apoiando a sua circulação através da internet. Estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento, instituição que financia o projeto, as estratégias regionais para o acesso aberto poderia beneficiar mais de 700 mil professores, 70 mil pesquisadores e 15 milhões estudantes da América Latina.

Projeto de Lei sobre REA é apresentado ao Congresso nos Estados Unidos

Senadores apresentam ao Congresso dos Estados Unidos o projeto de Lei “Affordable College Textbook Act of 2013” que prevê a redução dos altos custos com livros pela expansão dos Recursos Educacionais Abertos.

Para Nicole Allen, diretora do Programa REA da SPARC, o ensino superior precisa de soluções para a crise dos altos custos dos livros universitários e este projeto de lei prevê essa resposta, uma vez que, os recursos educacionais abertos são o caminho mais eficaz.

Em situação análoga a do Brasil, nos Estados Unidos nem o grande potencial da internet conseguiu resolver o problema do acesso aos materiais digitais, especialmente os livros e o mercado que gira em torno dele e perpetua preços elevados.

Os Recursos Educacionais Abertos (REA) fornecem um novo modelo para a publicação de conteúdo acadêmico que é projetado para tirar o máximo proveito do ambiente digital. Usando livros abertos (livros com licenças flexíveis) no lugar de livros didáticos tradicionais se reduz o custo para os alunos entre 80-100%.

Especificamente a nova lei cria e expande o uso de livros que podem ser disponibilizados on-line e licenciados abertamente, o que permite ao público o direito de acessar livremente, personalizar e distribuir o material.

Alguns pontos importantes do projeto de lei:

  • Criação de um programa de subvenção para apoiar projetos piloto em universidades na criação e expansão do uso de livros didáticos abertos, com prioridade para os programas que irão atingir os mais altos descontos para os alunos;
  • Garante que todos os livros abertos ou materiais educativos criados com recursos do programa serão livremente disponibilizados ao público;
  • Exige que as entidades que recebem financiamento criem um relatório sobre a eficácia do programa para alcançar preços mais baixos para os alunos;
  • Melhora os requisitos existentes para os editores para que produzam os livros didáticos e outros materiais educativos disponíveis para venda individualmente e não como um conjunto
  • Requer a apresentação de uma atualização sobre as tendências de preços de livros usados nas universidades em 2017 ao Congresso.

No Brasil, o custo do livro também é uma barreira para inúmeros estudantes do ensino superior, e também, da educação básica. O Projeto REA-Br tem trabalhado junto aos gestores políticos para avançar com esse tema no Brasil. Atualmente, o município de São Paulo é pioneiro em leis que garantem ao público o acesso e o direito da livre reutilização e remix dos materiais digitais disponibilizados com objetivos educacionais, pedagógicos e afins, no âmbito da rede pública municipal de ensino. Os deputados paulistas aprovaram no fim de 2012 uma lei similar que garantia REA no Estado de São Paulo, entretanto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) apesar de argumentar a favor de REA, vetou a lei sob argumento de vício de iniciativa e que é sua prerrogativa apresentar este tipo de projeto.

Sobre o alto custo dos livros no Brasil, o Gpopai (Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação) realizou um estudo em 2008 sobre o mercado de livros técnicos e científicos no Brasil, veja aqui.

Fontes:

Durbin, Franken Introduce Legislation to Help Make College Textbooks More Affordable

SPARC Applauds Senators Durbin and Franken for Bill to Make College Textbooks More Affordable